quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Sobre estágio e papelices

Primeiramente, acho que devo pedir desculpas pelo sumiço do blog. Desde setembro que não escrevo e é claro que essa ausência teve algum motivo. Prometo organizar o material que tenho para fazer postagens durante as férias.

Estive envolvida com diversos projetos que não tinham a ver com o magistério e com várias obrigações que tinham a ver. Vivi esse semestre, pela primeira vez, a experiência de ser professora do ensino superior... em São Gonçalo. Sim, longe, eu sei, mas se é isso que eu quero fazer da vida, em algum lugar eu tenho que começar.

Fui chamada para ser professora da disciplina Estágio Supervisionado II, que tem por objetivo proporcionar aos alunos do curso de História, futuros professores, vivências significativas e aproximá-los, na medida do possível, da realidade da sala de aula do ensino fundamental. Até aí tudo bem. Não vou questionar a validade do estágio porque o meu, no CAp da UFRJ, como eu já salientei em outras postagens, me proporcionou experiências maravilhosas.

Eu mesma estou em sala de aula, eu mesma sou professora do ensino fundamental. Me sentia capaz de orientar essa turma de futuros estagiários. Entretanto, o fato de eu ter assumido a disciplina em setembro me fez correr contra o tempo para pressionar os alunos para que buscassem logo uma sala de aula para realizar o estágio e professores que se dispusessem a recebê-los e a integrá-los naquele ambiente "entrópico" que é uma escola de ensino fundamental antes de término do ano. Em setembro isso foi desafiador. Sabemos que existem professores que nem sempre gostam de receber estagiários. Alguns se sentem intimidados - porque não dizer, ameaçados - em ter o seu trabalho observado e avaliado por alguém estranho ao cotidiano da escola.

Os estagiários, obviamente estranham no início e acharam tudo aquilo o caos. O ambiente da escola é mesmo assustador para o observador externo. Eu mesma fiquei assustada e no meu primeiro dia como professora achei que nunca mais teria coragem de entrar em uma sala de aula. Os estagiários também se desestimulam ao perceber o desinteresse dos alunos, sua falta de atenção em sala, sua negligência para com as aulas e tarefas. Bem, entre mortos e feridos, salvaram-se quase todos (três desistências em uma turma de catorze estagiários).




Eles observaram o trabalho dos professores em escolas públicas da rede municipal e estadual de São Gonçalo e todos conseguiram cumprir o rito de passagem de dar suas aulas ao fim do estágio.

Eu, como professora de Estágio II, tive que ir a São Gonçalo acompanhar 11 aulas diferentes. Foi ótimo porque conheci vários professores, com diferentes histórias, que estão em sala há muito mais tempo que eu e que desenvolveram, de acordo com o seu estilo, diferentes formas de se relacionar com os alunos.

Esses professores, cada um à sua maneira, apesar de todas as dificuldades, encontram formas de se motivar diariamente para estar em sala, para interagir com os alunos, para proporcionar a alunos de escolas públicas dos rincões de São Gonçalo algo mais do que o conteúdo de História. Duas em especial me marcaram.

A professora M. se dispôs a receber três dos meus estagiários e desde o primeiro momento, por meio do relato deles, pude perceber que estava diante de alguém extremamente comprometido com o seu trabalho. Dando aulas há 20 anos na mesma escola, ela foi capaz de motivar e encantar os meus alunos-professores porque se preocupava com o desenvolvimento e a formação dos seus alunos. Ela, segundo relato dos meus estagiários sempre buscava conhecer as dificuldades de seus alunos, ao mesmo tempo em que exige que eles mantenham uma atitude positiva na relação com os outros. Realmente, em sua sala de aula não vi nenhuma falta de respeito e acreditem, conseguir que os alunos se respeitem é um grande feito para professores que trabalham na rede pública. Os alunos não vêem palavrões, xingamentos ou mesmo agressões físicas, como falta de respeito.




Por outro lado, a professora L. também me surpreendeu. Quando fui acompanhar a aula de um dos meus estagiários, pude perceber que ao fim da aula algumas alunas e ex-alunas da escola esperavam para falar com ela. Uma dessas ex-alunas, pude perceber, estava grávida.

A professora L. me disse que elas estavam esperando para falar com ela porque ela era uma pessoa de confiança, e definiu a sala de aula como um "grande consultório psicanalítico". Ela disse que ia atrás de alguns alunos seus na comunidade quando percebia que eles tinham se envolvido com o tráfico local. Achei fantástica a confiança e proximidade que essa professora estabeleceu com os seus alunos.




Agora, voltemos à realidade da minha escola. Essa semana estamos em Conselho de Classe. Uma correria para corrigir todos trabalhos e provas e fechar notas. Diante de tudo isso, fico me perguntando: de que adiantam tantas papelices se números para garantir índices de aprovação podem e devem ser facilmente manipuláveis?








Me senti idiota quando no início do ano letivo, ao diagnosticar, juntamente com as professoras de Língua Portuguesa e Ciências que dois dos nossos alunos de 6.º ano (5.ª série) eram completamente analfabetos tive que ouvir que eles não poderiam ir para um projeto de alfabetização por não estarem fora da faixa etária. Eles permaneceram onde estavam. Peraí, já não basta eles terem chegado ao 6.º ano sem saber ler? Eles ainda teriam que ser reprovados, para ficar fora da faixa e aí terem a chance de talvez serem alfabetizados?




Me sinto idiota de ver passar de ano alunos que não têm a mínima condição de estar na série em que estão e ainda assim passarão para a série seguinte.

Gosto realmente de ser professora, mas não gosto da burocracia e muito menos de ter que mascarar resultados que eu sei que não condizem minimamente com a realidade. Talvez fosse melhor que eu fizesse um concurso para um órgão qualquer e fosse carimbar papel em alguma repartição pública obscura.




Só mesmo experiências como as das professoras acima é que me fazem ainda ter alguma esperança. Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo de alguns anos de análise é que para mudar devemos reconhecer as falhas que temos e não empurrá-las para debaixo do tapete. Enquanto as Secretarias de Educação continuarem ignorando as experiências de quem convive diariamente com os alunos e pressionando-os a mascarar os problemas inventando índices, não vamos a lugar algum.


Aliás, vamos sim, cada vez mais, para o fundo do poço.


PS: Prometo que nas próximas postagens não quebrarei o firme propósito de não-reclamação que orientou a criação desse blog.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

E as angolanas são bonitas?

Como eu venho contando para vocês, estou adentrando com o meu sétimo ano a temática África. Melhor seria dizer, Áfricas porque quanto mais eu estudo, mais eu descubro e me apaixono por este universo, por este continente. A apostila da prefeitura tem me ajudado. Quem tiver curiosidade pode dar uma olhada nela aqui.

Para introduzir o tema, eu resolvi fazer com os alunos a dinâmica sugerida pelo programa "A cor da cultura", que consiste em classificar a África como sinônimo de desenvolvimento ou atraso, saúde ou doença, riqueza ou pobreza, estabilidade política ou instabilidade política, tribo ou civilização.

Levei o mapa político da África, distribuí esses pares palavras e pedi para que os alunos, em grupos, escolhessem uma classificação em cada um dos pares. Coloquei as classificações negativas em vermelho e as positivas em azul. O resultado não foi outro. Os grupos, sem exceção,  escolheram aspectos negativos. Alguns não sabiam o que era estabilidade e instabilidade política, mas assim que eu explicava eles diziam na mesma hora que só podia ser instabilidade.


Ao serem questionados sobre o motivo de suas escolhas, a maioria dos alunos disse que é isso que a televisão mostra. Alguns insistiam em dizer que a África era um país. Aí mostrei o mapa e disse que era um continente, com muitos países. Perguntei se eles saberiam me dizer o nome de três desses países sem olhar no mapa. Como eu desconfiava, a maioria não soube.

Fiz a experiência para confirmar algo que eu já sabia, que não ensinamos nada sobre África e que não ensinamos porque sabemos pouco ou não queremos saber.

Disse aos alunos que o que a TV mostra não é mentira. As guerras, a fome, a pobreza, tudo está lá, mas pedi para eles, enquanto moradores de uma favela para imaginar o que as pessoas pensam sobre moradores de favela. Será que a imagem que passa na TV corresponde a toda a realidade, a toda a verdade? Muitos disseram que não. Que às vezes, a TV mostra apenas a pobreza, os problemas. Chegaram onde eu queria ir.

Com a África, eu disse, também é assim. Embora as pessoas trabalhem, se divirtam, estudem, vivam, enfim, a TV insiste em mostrar apenas os aspectos negativos.

Pensei muito em um vídeo que descobri há uns dias justamente enquanto preparava essa aula. O vídeo se chama "O perigo de uma única história" e é a palestra de Chimamanda Adichie, uma jovem escritora nigeriana (linda e muito bem-humorada), filha de um professor universitário e de uma secretária. A palestra fala de estereótipo e de como enxergar somente através dos estereótipos pode ser redutor. A escritora fala dos males de acreditar em uma única história, de contar às crianças um única história, de enxergar os outros de uma forma que reduz a uma apenas uma característica ou a um conjunto de características quase sempre negativas.




É difícil evitar rótulos, porque nos definimos sempre em relação ao que consideramos como "outro". O perigo é quando tornamos aquele "rótulo", a única história possível sobre aquele "outro". Uma história definitiva, como diz Chimamanda. Isso se torna extremamente perigoso quando se trata de África. Se torna perigoso porque, segundo Chimamanda, não é que os estereótipos sejam mentira, mas eles são incompletos e acabam por roubar a dignidade das pessoas e enfatiza as diferenças, em detrimento das semelhanças,.

No caso brasileiro, se torna perigoso, quando nós  não vemos a África como parte de nós, mas como o "outro" em relação ao qual eu quero é preciso se diferenciar. Como podemos querer nos diferenciar de algo que está em nós, que faz parte das nossas raízes? Como podemos ter vergonha do que somos?

Em outra aula, na qual eu trabalhava uma temática completamente diferente, um menino chamou outro de angolano, com o intuito de ofender. Ao escutar, perguntei o que ele queria exatamente dizer com isso. Ele me respondeu que o colega (negros os dois, o que "xingou" e o que foi "xingado") era feio e por isso, angolano. Eu respondi a ele que nem todos os angolanos eram feios e que por coincidência, ou não, a mulher mais bonita do universo era angolana. Ele desconhecia o resultado do Miss Universo e eu disse a ele que a vencedora havia sido uma angolana. Ele fez cara de espanto e lançou a pergunta: "as angolanas são bonitas?".

Sim W. É uma pena que não tenham dito para você, mas as angolanas também podem ser bonitas.


Leila Lopes, angolana eleita Miss Universo 2011

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mais uma vez, a África.


Fonte da imagem: http://doolharnegro.blogspot.com/2011/05/25-de-maio-dia-da-africa-e-celebrado-no.html

Ao iniciar o ano letivo, em uma aula inaugural para toda a rede municipal, transmitida pela Multi-Rio, a Secretária de Educação afirmou, mediante uma pergunta de uma professora da rede, que trabalharia para a implementação em toda a rede da lei 10.639. Eu assisti a essa aula inaugural na antiga escola em que trabalhava e não pude deixar de transparecer o meu descrédito, que foi compartilhado com uma colega de Língua Portuguesa que é muito ligada às literaturas africanas por ser essa a temática de sua pesquisa de doutorado.
Achamos que a secretária, na ocasião, estava falando isso apenas porque África é o assunto da moda e para se livrar da pergunta. Achamos que no meio de tantas demandas e urgências, a África ficaria, mais uma vez, esquecida.
Qual não foi minha surpresa ao receber por meio da escola o convite para a mesa “Imagens do Brasil: Relações Étnico-raciais, Diversidade, Multiculturalismos” realizada na última terça-feira, dia 23 de agosto, no centro da cidade.
Curiosa, me dirigi para lá sem saber muito bem o que esperar.

Bem, era uma mesa nos moldes acadêmicos. Muita reflexão, pouca aplicabilidade. O que eu aprendi lá muito me serviu para pensar a minha provável futura pesquisa, mas não ajudará muito na minha prática docente. A minha prática docente e o conhecimento que tenho de História da África só caberá a mim mesma melhorar. Mas essa iniciativa já é um começo, né? Quem sabe...

Eu tenho uma afeição especial pela História da África. Na faculdade achei um absurdo descobrir que a história do continente não era disciplina obrigatória. Peguei o que podia como eletiva. As pesquisas me levaram por outros caminhos, mas a África, ou melhor, as Áfricas sempre estiveram em meus horizontes. Quando estagiava no Cap, por meio do empenho e do exemplo da professora Mônica Lima, especialista e militante do ensino de História da África desde muito tempo, aprendi a gostar ainda mais de estudar o continente.

Entretanto, ainda sou uma iniciante no assunto.

Certa vez, ao postar o link da coleção História Geral da África (disponível na íntegra para download nos sites do MEC e da UNESCO ) um colega historiador me disse que não sabia da existência de uma obra tão extensa sobre História da África. Ele disse na ocasião que achava que dava para twitar essa história. Exageros à parte, realmente ainda existe muita coisa por fazer. Existe muito material legal na internet para os professores que querem entender um pouco mais sobre as temáticas relacionadas à África. Com um pouco de cuidado sempre, é possível fugir da folclorização e da simplificação que marcaram e ainda marcam o nosso imaginário sobre a África.

Existem muitas formas de inserir a África na nossa história. Reconheço que falta um pouco de boa vontade por parte dos professores também.
Já compartilhei com vocês a alegria e estarrecimento que uma aluna me causou ao me questionar onde estavam os negros na História que eu ensinava. As próximas aulas que darei na turma dela serão sobre História da África. Volto para falar sobre elas aqui e para mostrar o material legal que levantei e as atividades que podem ser feitas.

M... essas aulas serão para você.




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A volta

Pois é! Depois desse incrível e longo recesso de uma semana, as aulas na rede municipal retornam hoje. Em julho estive meio afastada daqui por conta de questões pessoais. Novos projetos, artigos, viagem à São Paulo para participar de congresso e... crash, um rompimento brusco.  Mais uma vez citando Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e  depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

Então, desejo nessa volta às aulas a todos nós coragem para não esmorecer. Aos colegas do estado que estão em greve, lutando pelos seus direitos, a todos que trabalham na rede pública e mesmo diante das condições não deixam de fazer a sua parte.

Bem vindos de volta!

A paz que eles não querem

No início desse ano, tive de deixar a escola municipal na qual estava trabalhando desde que assumi na rede, em 2009. Não foi voluntariamente que o fiz. Esse ano a Secretaria Municipal de Educação resolveu continuar com uma política de implementação de projetos de correção de fluxo escolar para alunos defasados. A proposta é que cada uma dessas turmas tenha apenas um professor, responsável pelo encaminhamento de todas as disciplinas do currículo. Logo, houve uma diminuição no número de turmas de alunos regulares nas escolas onde os projetos foram implementados.
A escola em que estava, recebeu alguns desses projetos. Como eu era a última professora da disciplina História a assumir (e antiguidade no magistério municipal, é posto), tive que procurar outra escola para chamar de minha e acabei caindo na área da Tijuca, mais especificamente no sub-bairro (se é que isso existe) da Usina.
Aí, tudo novo, de novo. Nova escola, nova direção, novos alunos, novos colegas de trabalho, novas condições. Outra estrutura. Os alunos são em sua maioria do Morro do Borel.
Tive medo. Medo do novo, mas também medo de cair no que minha colega Fátima chama de o Hades da rede municipal. Não é preciso ter muita experiência para saber que a rede tem escolas que são perfeitos Olimpos, mas que tem muito mais escolas semelhantes ao inferno de Dante, nas quais a frase do portal tal como descrita na Divina Comédia, se encaixa perfeitamente: "Deixai toda esperança, ó vós que entrais!"


Frase escrita numa porta arrombada de sala de aula numa escola municipal carioca.

Acabei me surpreendendo porque a escola não era o que eu estava pensando. Tem seus problemas, como todas as escolas da rede, mas tem uma direção muito engajada, que trabalha dia e noite para que a escola funcione bem. Apesar de tudo. Os professores também me surpreenderam positivamente. São professores que se importam com os alunos (minha curta experiência na rede mostra que o contrário não é difícil de achar), que se importam com o seu trabalho.
Bem, mesmo assim, ainda não seria essa vez que eu conseguiria completar a minha carga horária ensinando unica e exclusivamente a disciplina para a qual eu fiz concurso.
A escola não tinha quatro turmas de História para fechar a carga horária e acabei ficando com três turmas de projeto de correção de fluxo. Minha tarefa: dar um tempo, apenas um tempo por semana em cada uma dessas turmas. Parece fácil, né? Mas não é. Os alunos são multirrepetentes, muito desmotivados, indisciplinados. Muitas vezes esse um tempo me fazia repensar a minha escolha pelo magistério e se não era melhor abandonar tentar outros caminhos.
Com essas turmas eu procuro fazer um trabalho de aproximação entre eles (não imaginam como é difícil fazer eles se respeitarem um pouco e se colocar no lugar do próximo) e reflexão sobre temas como drogas, gravidez na adolescência, etc. Entretanto, uma após a outra, minhas tentativas de tornar aqueles cinquenta minutos mais agradáveis fracassavam.
Outro dia, tentei fazer com os alunos dessas turmas um trabalho sobre os significados da paz. Levei como como motivação e ponto de partida as letras das músicas "Minha alma" do Rappa e "Eu só quero é ser feliz" da dupla Cidinho e Doca. Conversando com os alunos sobre os significados da paz para eles, percebi que os referenciais deles acerca da paz são muito diferentes dos nossos e eles percebem isso. O trabalho até que deu certo e rendeu a confecção de cartazes sobre a paz que em breve eu posto aqui.

terça-feira, 28 de junho de 2011

O Antigo Egito entre maldições, hieróglifos, papiros e crocodilos - parte II


No terceiro tópico da primeira parte do vídeo "Grandes Civilizações - Egito" temos a pirâmide social do Egito. Explicar pirâmide social para alunos de 11 anos nem sempre é tão fácil quanto parece. Quando eu fazia estágio de prática de ensino no Colégio de Aplicação da UFRJ, instituição criada para que os futuros professores pudessem ir a campo e experimentar a docência, uma anedota contada pelo professor de estágio na aula, exemplifica essa dificuldade. Conta-se que um aluno de estágio supervisionado de História ao tentar explicar para uma turma a pirâmide social do Egito foi surpreendido por alguns alunos da turma que começaram a formular hipóteses para o fato do quarto do faraó ficar no andar mais alto da pirâmide. Coitado do faraó! O que aconteceria se houvesse um incêndio na pirâmide? Coitado do pobre aprendiz de professor! Não contava que a aula tomasse esse rumo.



Por isso, antes de tentar explicar pirâmide social, acho sensato deixar beeem claro que a pirâmide que você pretende mostrar é uma representação. Que é só para exemplificar a importância dos grupos naquela sociedade, a hierarquização. Explique também, por via das dúvidas, que a construção pirâmide não tinha por finalidade ser uma habitação, mas que era, na verdade, um túmulo, uma sepultura para o faraó. Assim não corre-se o mesmo risco que o desavisado licenciando.

No mais, no link abaixo encontra-se um modelo de pirâmide social que os alunos podem pintar para ser afixado no mural da sala. Assim, eles não esquecem.

Pode-se explicar o papel de cada grupo no interior da sociedade egípcia por meio dos desenhos.









O modelo da pirâmide para colorir e mais alguns desenhos sobre o Antigo Egito podem ser encontrados em: http://www.midisegni.it/Port/storia_egipto.shtml



Ao falar sobre os escribas, pode-se ressaltar que desempenhavam uma função de destaque na sociedade egípcia. Nos dias de hoje quase todo mundo sabe ler e escrever, mas naquela época não era bem assim. Ainda mais porque a escrita egípcia era bem complicada.

Não existia apenas um tipo de escrita no Egito, mas aquela usada em escritos oficiais era a hieroglífica.
Trata-se de uma escrita baseada em sinais que representam idéias e sons. Por exemplo, o desenho de uma coruja representa o animal coruja, mas também o som da letra “m”.

 A atividade foi elaborada pela professora Ana Paula Sampaio Caldeira e já foi aplicada por mim em sala com sucesso.

Pode-se propor um desafio aos alunos: escrever uma ou duas frases utilizando-se a escrita hieroglífica, decifrada abaixo:







Fonte: http://www.museu.gulbenkian.pt/serv_edu/navegar_no_antigo_egipto/egipto.html



Pode-se explicar também que essa complicada escrita foi decifrada a partir do egiptólogo francês Jean-François Champollion, que decifrou a chamada pedra da Roseta.






The Rosetta Stone in the British Museum.

No mural da sala, juntamente com a pirâmide podem ser afixados os escritos hieroglíficos da turma.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

O Antigo Egito entre maldições, hieróglifos, papiros e crocodilos - parte I

Quando comecei a minha jornada como professora da rede municipal de ensino, pedi ajuda a uma colega muito querida a quem tinha acompanhado no meu estágio de licenciatura. Ela também era professora da rede municipal e me deu boas dicas, me passou materiais excelentes que tenho usado muito. Entretanto, uma das dicas que ela me deu - que por sua vez, ela ouviu de uma professora bem mais experiente que ela quando entrou como professora substituta em uma renomada instituição de ensino aqui na cidade - não saiu da minha cabeça até hoje. Segundo ela, o ensino de História no ensino fundamental, pelo menos no 6.º e 7.º anos, quando os alunos ainda estão tendo os primeiros contatos com a disciplina, deveria ter por objetivo fazer do aprendizado algo prazeroso. Se eles acabarem o ano achando a disciplina divertida, cumprimos o nosso dever.
Em meu trabalho como professora tenho tentado seguir - sem muito sucesso, às vezes, tenho que confesssar - essa ideia. O problema da História é a leitura. Os meus alunos não gostam de ler. Ou melhor, não gostam de ler sobre História. Isso é um fato.
Portanto, se eu não consigo cumprir esse primeiro objetivo no ensino da História, tenho perseguido dois outros acrescentados pela minha colega na mesma ocasião: ajudar os alunos se localizar no tempo e no espaço. Tarefas também não muito fáceis.
Nesse momento, por exemplo, preparo aulas sobre um assunto que acho muito divertido: o Egito. Diferente de outros assuntos relacionados à Antiguidade, desse eu gosto muito. Acho tudo tão monumental e bonito. Tão importante para a nossa História enquanto humanidade. Gostaria muito que os meus alunos também partilhassem desse interesse, mas ainda não estou convencida de que algo tão distante deles possa despertar algum interesse. Ano passado, quando dei Egito consegui que eles se interessassem, um pouco. Isso foi tudo.
Por isso, iniciarei a primeira aula sobre o assunto loalizando o Egito no globo terrestre porque se não fizer isso eles podem realmente pensar que o Egito fica na Amazônia, Europa, na China ou qualquer outro lugar. Na idade deles eu também não fazia ideia. E também não tinha ideia em que tempo tinha se desenvolvido a tal da civilização egípcia.
Recentemente, conheci por indicação de uma colega professora uns vídeos bem dinâmicos que podem interessar aos alunos do 6.º ano. Esses vídeos me conduzirão.




Vídeos produzidos pela "SOL90audiovisual" por encomenda da "ASTROLAB motion" para a série  Grandes Civilizações


Os vídeos podem servir para introduzir de uma maneira divertida diversos aspectos da civilização egípcia. Se iniciam justamente com a localização espaço-temporal da civilização egípcia.
Aspectos da civilização egípcia podem ser trabalhados de acordo com o vídeo.
Por exemplo, a questão da organização do estado, personificado pelo faraó, pode ser iniciada por meio das seguintes questões (adaptadas do plano de aula da professora PATRÍCIA LÚCIA GALVÃO DA COSTA):



  • Qual a importância dos faraós para o povo egípcio;







  • O que eles representavam;







  • O modo que se vestiam;







  • Os adereços que usavam como roupas, jóias, perucas, barba etc.







  • Quais os faraós mais conhecidos?






  • Pode trazer imagens de representações dos faraós e retomar também maldição de Tutankâmon, citada nos vídeos.

    Os alunos podem confeccionar sob a supervisão do professor a coroa do faraó, como aparece no vídeo, usando cartolina ou papel cartão, simbolizando o Baixo Egito e o Alto Egito. Pode ser confeccionada também a máscara mortuária de Tutankamon nos mesmos materiais.

    Aguardem as próximas aulas.

    Referências:

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Coroas_eg%C3%ADpcias

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Tutanc%C3%A2mon

    http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=8960

    quarta-feira, 15 de junho de 2011

    Um pouco menos de mais do mesmo ou o que Harry Potter tem a ver com o Renascimento

    Continuo na minha tarefa inglória de explicar o Renascimento para os alunos de sétimo ano. Em minhas buscas pela minha mais fiel aliada na tarefa do preparo dos materiais de aula, a internet, encontrei o anúncio de uma exposição organizada pelo o Museu de Ciências Naturais da Universidade do Alabama que relacionava o mundo de Harry Potter com a época, as crenças e os costumes do Renascimento.

    Pensei que a exposição era perfeita para tornar mais claro para os alunos aspectos da mentalidade renascentista.

    Chafurdando um pouco mais, encontrei o site da exposição e me encantei pelo que vi, uma vez que sou historiadora e também Pottermaníaca. Para mim, foi muito legal saber que a J. K. Rowling (autora da série, para os não iniciados) foi buscar elementos das ciências e crenças existentes na época para compor o universo de magia e bruxaria no qual Potter e companhia atuam. Me interessei também pelo fato dos livros abordarem valores como amizade, ética, responsabilidade, preconceito, necessidade de fazer o que é certo, valores esses tão em baixa no mundo de hoje. Eu até levei o meu chapéu de bruxa para tornar a aula mais divertida e fazê-los entrar no clima.
    Não vou dizer que os alunos não gostaram. Até se interessaram no início. O problema é que quando eu tentava mostrar algo que tinha mais a ver com o Renascimento do que com Harry Potter, o interesse magicamente desaparecia e dava lugar ao falatório sem controle.

    Eu achei muito legal que muitos já tivessem lido os livros. O problema é que eles realmente não queriam e não querem saber do Renascimento. Não querem saber se a autora bebeu nessa fonte, não se interessam por tais informações.

    Mas como eu achei a exposição muito criativa e inteligente, vou colocar aqui fragmentos dos slides que preparei e comentar a forma como encaminhei as discussões.





    Para iniciar, passei o trailler do filme Harry Potter e a Pedra Filosofal que todos eles já tinham visto ao menos uma vez na vida.




    Em seguida, expliquei que a fabricação da tal pedra filosofal era um dos principais objetivos dos alquimistas e expliquei em linhas gerais o que era alquimia. O que mais me impressionou foi o fato de um dos alunos ter mencionado a música "Os alquimistas estão chegando" do Jorge Ben. Isso me deixou até feliz. A música é ótima para se utilizar em sala, embora eu não a tenha incluído.
    Expliquei que existia a crença de que a pedra filosofal fosse capaz de conferir a juventude eterna a quem a possuísse, tal e qual no filme. Expliquei também que o trabalho desses alquimistas foram a base da ciência que conhecemos hoje como química, pois eles também estudavam a constituição dos elementos, misturando-os, triturando-os, destilando-os.







    Ilustração de um equipamento de destilação feita por Ambroise Paré ( Les Oeuures d'Ambroise Paré, 1585)

    Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/potions.html





    Imagem da aula de poções no filme “Harry Potter e o Enigma do Príncipe”


    Disponível em: http://capricho.abril.com.br/blogs/play/94322/


    Tal como no filme, acreditava-se que o alquimista Nicolal Flamel (França, 1330 — 1418) tenha conseguido criar a pedra filosofal.





    Retrato de Nicolal Flamel

    Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/potions.html


    Para criar as suas "poções" os alquimistas, mas não somente eles, estudavam as propriedades das plantas e hoje nós temos uma ciência daí originária, chamada botânica. No mundo de Harry Potter os alunos estudam Herbologia com a professora Sprout.





    Ronald Wesley e uma Madrágora. Cena do filme “Harry Potter e a Câmara Secreta”.

    Disponível em: http://hogwartsenciclopedia.blogspot.com/2010/03/aulas-de-herbologia-mandragoras.html





    Detalhe de uma ilustração de uma mandrágora fêmea
    (Hortus Sanitatis, Jacob Meydenback 1491)

    Os conhecimentos sobre plantas existentes na época eram organizados em livros e quem fazia isso na época do Renascimento eram os estudiosos de Botânica.





    Ilustração de uma discussão entre botânicos. (Hortus Sanitatis, 1491)
    Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/herbology.html

    Em Hogwarts, Harry e seus amigos não aprendem apenas sobre poções e feitiços, mas também sobre o mundo natural, que é povoado por criaturas mágicas. Para isso, existe a disciplina "Trato com criaturas mágicas".


    Achei importante frisar para eles que a curiosidade em relação ao mundo é resultado de uma mudança de posturam em relação ao conhecimento e à capacidade do homem para descobrir e explicar as coisas do mundo nartural. Esse mundo natural, segundo os autores da época do Renascimento, estava povoado de animais que hoje consideramos míticos. Alguns deles aparecem no universo mágico de HP.

    Ilustrações de Basilisco e Dragão. Konrad Gesner, Historiae Animalium, 1551.
    Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/monsters.html



    Unicórnio. Konrad Gesner, Historiae Animalium, 1551.

    llustration of merpeople. The Workes of Ambrose Parey, translated out of Latine, 1634.
    Disponível em: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/fantasticBeasts.html

    Acabei por concluir que: J. K Rowling pesquisou crenças, tradições e elementos das ciências da época do Renascimento; essas ciências estava intimamente relacionadas com as crenças mágicas e a observação da natureza; alquimia, astrologia (existente até hoje), filosofia natural (botânica e zoologia) são algumas dessas ciências; a série HP examina importantes temas éticos, tais como o desejo de conhecimento, os efeitos do preconceito e da responsabilidade que vem com o poder e os Renascentistas  também tinham dúvidas parecidas sobre o alcance do seu poder de descobrir e modificar a natureza e a responsabilidade envolvida.

    Por fim, deixei no ar frases para eles pensarem um pouco a respeito:  "Não são nossos talentos que mostram aquilo que realmente somos, mas sim as nossas escolhas." (Harry Potter e a Câmara Secreta) e "Chegou a hora de escolhermos entre o que é certo e o que é fácil." (Harry Potter e a Ordem da Fênix). 

    Se quiserem saber mais sobre HP e o Renascimento acessem a exposição: http://www.nlm.nih.gov/exhibition/harrypottersworld/fantasticBeasts.html (site em inglês)

    Para compor a aula também utilizei dados da Wikipédia.

    Os direitos das imagens dos filmes são da Warner Bros.

    http://www.br.warnerbros.com/

    quarta-feira, 8 de junho de 2011

    Oito anos

    Ensinar História (ou seriam histórias?) para os alunos do 6.º ano não é tarefa das mais fáceis. Eu mesma não me lembro de ter gostado de História antes do Ensino Médio. História é uma das matérias que mais exige leitura, escrita e reflexão.Difícil, né?
    Na minha época, a boa e velha decoreba era mais do que suficiente. O meu professor de História no ensino fundamental era um senhor de idade muito gente boa, vascaíno, que lutava judô e chamava as alunas de Francisquinha, Felisberta ou Julieta e os meninos de "mancebos" ou "monstrinhos". Impressionante como eu me lembro dele e de seus trejeitos, mas as aulas, dessas eu não gostava muito. Ele ensinava da seguinte maneira: colocava toda a matéria no quadro, até a mão doer de tanto copiar e explicava tudo. Depois dava um questionário com umas dez ou quinze questões, algumas das quais eram cobradas nos testes e provas. As respostas das questões eram sempre as mesmas, decoradas, nunca diferentes do que estava no texto escrito por ele no quadro.
    Lembro de uma amiga muito inteligente que respondeu na prova que em Roma se construíam aquedutos porque não existia encanamento e ficou revoltada porque o professor não considerou nem como meio certo. Foi a forma que uma aluna da sexta série, com 11 anos encontrou para compreender que um aqueduto na Roma Antiga era necessário, uma vez que ele não explicara de que forma o aqueduto conduzia a água de um lugar ao outro para abastecer toda a cidade.
    Bem, coincidência, ou não, essa amiga também cursou História, embora hoje não seja professora (hoje ela trabalha no TJ e faz Direito).
    Mas o que eu queria dizer, é que eu tento (nem sempre consigo, é claro) mostrar uma outra face da História para os meus alunos. Mostrar que a história é feita de perguntas, mais do que de respostas. Eu fico muito feliz quando um aluno pergunta algo além do óbvio, como foi o caso da menina que me perguntou sobre África.
    Entretanto, o que eu percebo é que os alunos querem mais é pura e simplesmente copiar as perguntas e as respostas. Muitos deles querem que eu seja o meu professor lá dos tempos passados.
     Quando dou uma questão, qualquer que seja, eles querem saber em qual parte do texto, livro, apostila, caderno, ou algo que o valha está a resposta prontinha, esperando para ser copiada. Eu respiro, sorrio e digo: "na sua cabeça, pense com carinho que ela sai". Pena que eles não acreditam.
    Não os culpo. Se eles chegaram ao 6.º e 7.º ano sem saber pensar algo nas suas formações falhou. A escola não cumpriu o seu papel, que não é o de produzir reprodutores de conteúdos. Mais grave que isso, alguns chegam ao 6.º ano (antiga 5.ª série), sem saber ler. Dessa forma, não entendem nem o que estou perguntando.

    Pensando nessa postura que eu espero dos alunos nas aulas de História, eu criei uma atividade que pode ser feita em uma aula inicial, no primeiro dia de aula, para deixar claro o que vai ser valorizado na disciplina. Acho que pode funcionar bem com o sexto ano.

    Em um primeiro momento, deve-se perguntar se eles sabem o que vão estudar em História apresentar a disciplina, dizer o que se vai estudar. Pode-se até escrever no quadro.
    Em seguida, deve-se dizer que para estudar História devemos lembrar um pouco de como era ser criança (eles a meu ver são crianças, mas odeiam ser tratados como tal). Uma das características da criança é que ela pergunta tudo, quer saber como as coisas acontecem. No nosso caso, vamos querer saber como as coisas aconteceram e que relação têm com o que vemos nos dias de hoje. Você pode dizer que trouxe uma música para ajudar no processo de lembrar como era ser criança. A ideia é apresentar aos alunos a música "Oito Anos", da Adriana Partimpim (os dois CDs são uma delícia, recomendo). Distribua a letra e peça para eles cantarem junto.
    Abaixo, o link de uma montagem do vídeo.


    Em seguida, você pode conversar com os alunos para saber, diante do que você falou, quais são as expectativas deles em relação ao ensino de História, como eles acham que será o novo ano, com tantas disciplinas diferentes, etc.

    Eu ainda não experimentei porque bolei essa aula depois do início do ano, mas estou pensando em colocar em prática quando voltarmos das férias de julho.

    Se alguém quiser experimentar e postar aqui as suas impressões, fique à vontade.

    domingo, 5 de junho de 2011

    Os quadrões do Renascimento

    Com a minha turma de sétimo ano estou adentrando o Renascimento artístico e cultural, ocorrido em meio às mudanças pelas quais o mundo europeu passou no século XV. Como fazer os aluno perceberem a mudança de postura do homem, em relação à forma de enxergar o mundo? Como fazê-los perceber a passagem de uma mentalidade teocêntrica, para um contexto de exaltação da dignidade e dos progressos humanos?

    Primeiramente, mostrei o desenho do homem vitruviano, de Leonardo da Vinci, questionando os alunos sobre o que eles estavam vendo. A ideia era partir do visual para chegar à noção de homem no centro, no caso, literalmente, no centro de um círculo.


     
    Ao explicar o desenho, atentei para a noções de equilíbrio e harmonia presentes, atentanto para o  que tais noções remetiam ao trabalho dos artistas da Antiguidade.
    Ao explicar que essas noções foram parte de um movimento que se desenvolveu em algumas cidades, que hoje ficam no território italiano procurei localizar essas cidades no mapa.
    Busquei também mostrar que os artistas puderam desenvolver novas técnicas e aperfeiçoar as suas noções de perspectiva e geometria, recursos indispensáveis para a pintura. Pintores como Michelangelo, Botticelli e Rafael buscaram na mitologia clássica temas para suas obras, que alcançaram grande perfeição. Esses artistas criaram obras que são muito famosas até os dias de hoje.
    Por esse motivo, muitas releituras de suas obras são feitas até os dias de hoje.
    Para tornar mais lúdica a viagem pelo Renascimento, utilizei as releituras feitas por Maurício de Souza com os personagens de suas histórias em quadrinhos.

     


     
    Assim, a Mônica se transformou em Mônica Lisa, aludindo ao célebre quadro pintado por Da Vinci entre 1503 e 1506.


     
    O Cebolinha ganha vida na paródia da "Criação de Adão", afresco pintado no teto da capela Sistina por a
    Michelangelo.


       A ideia de trabalhar com os quadrões até que deu certo. Os alunos gostaram e se mostraram interessados, ainda que por apenas alguns minutos. A comparação com as paródias fez com que eles prestassem mais atenção às originais.
        Originalmente queria fazer as pinturas na forma de quebra-cabeça para que os alunos montassem em grupos, entretanto, o fato de a minha impressora não ser capaz de imprimir as pinturas nas cores originais frustrou as minhas expectativas.

    Bem, vamos aperfeiçoando.

    terça-feira, 31 de maio de 2011

    E a África, onde é que fica?

    Tenho uma turma de sétimo ano (antiga sexta série) que tem me dado muito trabalho em relação à disciplina. Alguns alunos me dizem abertamente que não gostam de História, que não conseguem entender a disciplina da forma como eu a explico. Eu os entendo. É difícil, mesmo. Esses alunos, em sua maioria, na turma em que estavam no ano passado, tiveram (apenas) quatro professores diferentes de História. As orientações curriculares do sétimo ano recomendam que se inicie o conteúdo pela crise do feudalismo, entretanto, como eles não tinham visto nada de Idade Média, tive que voltar e passei o primeiro bimestre inteiro nisso.
    Nunca tinha trabalhado com sétimo ano e está sendo um desafio tornar inteligível um passado tão remoto para a humanidade. Eles que acham que o nascimento deles foi há muito, muito tempo. Acontece que por mais que eu ache interessante estudar Idade Média, por mais que eu tenha buscado levar slides, imagens, fragmentos de filmes e textos abordando a arte, as cidades, os feudos, as guerras, nada disso se mostrou interessante para os alunos.
    Entretanto, uma aluna em particular me desafia. Apesar de não aparentar ter dificuldade em relação ao que está sendo ensinado, ela não dá a mínima para o que se passa em sala. Certa vez, estava mobilizando toda a minha capacidade explicativa para concluir a Idade Média, quando a aluna me perguntou porque é que eu só dava a história dos brancos. Obviamente, gaguejei um pouco para responder e disse que existiam Orientações Curriculares dadas pela prefeitura, que eu deveria seguir. Tais orientações se pautavam pela história da Europa. Quando eu tivesse a oportunidade, daria História da África e veríamos a história dos negros. Obviamente, a pergunta dela me fez pensar por que eu tenho que reproduzir um currículo que, por mais que eu me esforce, não tem feito sentido para os meus alunos. Eles não reconhecem essa história como a história deles.
    Não tive História da África na faculdade. Apesar da lei 10.639, ainda temos que avançar muito para que a formação dos professores de História inclua uma consideração mais séria da História da África como nossa história também. Ainda temos que avançar para que nosso currículo se torne menos europeu e inclua a história dos vários povos e etnias que constituíram a nossa história e sobre os quais temos ainda um profundo desconhecimento. Devo isso a minha aluna. Devemos isso a nós mesmos.

    segunda-feira, 30 de maio de 2011

    Invencionices iniciáticas.

    Estou adentrando nesse exato o momento a blogosfera com uma questão: o que eu faço com isso? Há tempos que eu queria criar um blog, mas não sabia exatamente sobre o quê. Aproveitando a onda de pensar a fragmentação do indivíduo moderno cogitava criar um blog que falasse sobre dança do ventre, literatura, ou culinária (péssima, diga-se de passagem, mas esforçada) que, ao fim e ao cabo, são assuntos de meu interesse. Entretanto, como uma historiadora que sou, fundamentada em uma historiografia um pouco mais recuada, que tende a ver nas relações de trabalho um mote para pensar a construção do homem enquanto tal (ufa), resolvi investir nas considerações acerca do meu trabalho como professora.
    É gente, eu poderia estar matando, eu poderia estar pedindo, mas resolvi, com a obstinação que me é peculiar (alguns diriam que é pura teimosia) ser professora de ensino fundamental na rede municipal de ensino. Mas esse lugar não é espaço para lamentação. Pelo contrário, quero dividir as minhas experiências de professora e acreditar, cada vez mais, que a vida, assim como tudo o que fazemos nela, "só é possível reinventada".
    E como o trabalho, além do esforço despendido em prol de um objetivo, requer também a capacidade de criação e reflexão, resolvi usar esse espaço para meditar acerca da minha prática e tornar menos solitária a minha jornada.
    Alguém me acompanha nesse espaço de descoberta e reinvenção?