terça-feira, 31 de maio de 2011

E a África, onde é que fica?

Tenho uma turma de sétimo ano (antiga sexta série) que tem me dado muito trabalho em relação à disciplina. Alguns alunos me dizem abertamente que não gostam de História, que não conseguem entender a disciplina da forma como eu a explico. Eu os entendo. É difícil, mesmo. Esses alunos, em sua maioria, na turma em que estavam no ano passado, tiveram (apenas) quatro professores diferentes de História. As orientações curriculares do sétimo ano recomendam que se inicie o conteúdo pela crise do feudalismo, entretanto, como eles não tinham visto nada de Idade Média, tive que voltar e passei o primeiro bimestre inteiro nisso.
Nunca tinha trabalhado com sétimo ano e está sendo um desafio tornar inteligível um passado tão remoto para a humanidade. Eles que acham que o nascimento deles foi há muito, muito tempo. Acontece que por mais que eu ache interessante estudar Idade Média, por mais que eu tenha buscado levar slides, imagens, fragmentos de filmes e textos abordando a arte, as cidades, os feudos, as guerras, nada disso se mostrou interessante para os alunos.
Entretanto, uma aluna em particular me desafia. Apesar de não aparentar ter dificuldade em relação ao que está sendo ensinado, ela não dá a mínima para o que se passa em sala. Certa vez, estava mobilizando toda a minha capacidade explicativa para concluir a Idade Média, quando a aluna me perguntou porque é que eu só dava a história dos brancos. Obviamente, gaguejei um pouco para responder e disse que existiam Orientações Curriculares dadas pela prefeitura, que eu deveria seguir. Tais orientações se pautavam pela história da Europa. Quando eu tivesse a oportunidade, daria História da África e veríamos a história dos negros. Obviamente, a pergunta dela me fez pensar por que eu tenho que reproduzir um currículo que, por mais que eu me esforce, não tem feito sentido para os meus alunos. Eles não reconhecem essa história como a história deles.
Não tive História da África na faculdade. Apesar da lei 10.639, ainda temos que avançar muito para que a formação dos professores de História inclua uma consideração mais séria da História da África como nossa história também. Ainda temos que avançar para que nosso currículo se torne menos europeu e inclua a história dos vários povos e etnias que constituíram a nossa história e sobre os quais temos ainda um profundo desconhecimento. Devo isso a minha aluna. Devemos isso a nós mesmos.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Invencionices iniciáticas.

Estou adentrando nesse exato o momento a blogosfera com uma questão: o que eu faço com isso? Há tempos que eu queria criar um blog, mas não sabia exatamente sobre o quê. Aproveitando a onda de pensar a fragmentação do indivíduo moderno cogitava criar um blog que falasse sobre dança do ventre, literatura, ou culinária (péssima, diga-se de passagem, mas esforçada) que, ao fim e ao cabo, são assuntos de meu interesse. Entretanto, como uma historiadora que sou, fundamentada em uma historiografia um pouco mais recuada, que tende a ver nas relações de trabalho um mote para pensar a construção do homem enquanto tal (ufa), resolvi investir nas considerações acerca do meu trabalho como professora.
É gente, eu poderia estar matando, eu poderia estar pedindo, mas resolvi, com a obstinação que me é peculiar (alguns diriam que é pura teimosia) ser professora de ensino fundamental na rede municipal de ensino. Mas esse lugar não é espaço para lamentação. Pelo contrário, quero dividir as minhas experiências de professora e acreditar, cada vez mais, que a vida, assim como tudo o que fazemos nela, "só é possível reinventada".
E como o trabalho, além do esforço despendido em prol de um objetivo, requer também a capacidade de criação e reflexão, resolvi usar esse espaço para meditar acerca da minha prática e tornar menos solitária a minha jornada.
Alguém me acompanha nesse espaço de descoberta e reinvenção?