sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Mais uma vez, a África.


Fonte da imagem: http://doolharnegro.blogspot.com/2011/05/25-de-maio-dia-da-africa-e-celebrado-no.html

Ao iniciar o ano letivo, em uma aula inaugural para toda a rede municipal, transmitida pela Multi-Rio, a Secretária de Educação afirmou, mediante uma pergunta de uma professora da rede, que trabalharia para a implementação em toda a rede da lei 10.639. Eu assisti a essa aula inaugural na antiga escola em que trabalhava e não pude deixar de transparecer o meu descrédito, que foi compartilhado com uma colega de Língua Portuguesa que é muito ligada às literaturas africanas por ser essa a temática de sua pesquisa de doutorado.
Achamos que a secretária, na ocasião, estava falando isso apenas porque África é o assunto da moda e para se livrar da pergunta. Achamos que no meio de tantas demandas e urgências, a África ficaria, mais uma vez, esquecida.
Qual não foi minha surpresa ao receber por meio da escola o convite para a mesa “Imagens do Brasil: Relações Étnico-raciais, Diversidade, Multiculturalismos” realizada na última terça-feira, dia 23 de agosto, no centro da cidade.
Curiosa, me dirigi para lá sem saber muito bem o que esperar.

Bem, era uma mesa nos moldes acadêmicos. Muita reflexão, pouca aplicabilidade. O que eu aprendi lá muito me serviu para pensar a minha provável futura pesquisa, mas não ajudará muito na minha prática docente. A minha prática docente e o conhecimento que tenho de História da África só caberá a mim mesma melhorar. Mas essa iniciativa já é um começo, né? Quem sabe...

Eu tenho uma afeição especial pela História da África. Na faculdade achei um absurdo descobrir que a história do continente não era disciplina obrigatória. Peguei o que podia como eletiva. As pesquisas me levaram por outros caminhos, mas a África, ou melhor, as Áfricas sempre estiveram em meus horizontes. Quando estagiava no Cap, por meio do empenho e do exemplo da professora Mônica Lima, especialista e militante do ensino de História da África desde muito tempo, aprendi a gostar ainda mais de estudar o continente.

Entretanto, ainda sou uma iniciante no assunto.

Certa vez, ao postar o link da coleção História Geral da África (disponível na íntegra para download nos sites do MEC e da UNESCO ) um colega historiador me disse que não sabia da existência de uma obra tão extensa sobre História da África. Ele disse na ocasião que achava que dava para twitar essa história. Exageros à parte, realmente ainda existe muita coisa por fazer. Existe muito material legal na internet para os professores que querem entender um pouco mais sobre as temáticas relacionadas à África. Com um pouco de cuidado sempre, é possível fugir da folclorização e da simplificação que marcaram e ainda marcam o nosso imaginário sobre a África.

Existem muitas formas de inserir a África na nossa história. Reconheço que falta um pouco de boa vontade por parte dos professores também.
Já compartilhei com vocês a alegria e estarrecimento que uma aluna me causou ao me questionar onde estavam os negros na História que eu ensinava. As próximas aulas que darei na turma dela serão sobre História da África. Volto para falar sobre elas aqui e para mostrar o material legal que levantei e as atividades que podem ser feitas.

M... essas aulas serão para você.




segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A volta

Pois é! Depois desse incrível e longo recesso de uma semana, as aulas na rede municipal retornam hoje. Em julho estive meio afastada daqui por conta de questões pessoais. Novos projetos, artigos, viagem à São Paulo para participar de congresso e... crash, um rompimento brusco.  Mais uma vez citando Guimarães Rosa: "A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e  depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

Então, desejo nessa volta às aulas a todos nós coragem para não esmorecer. Aos colegas do estado que estão em greve, lutando pelos seus direitos, a todos que trabalham na rede pública e mesmo diante das condições não deixam de fazer a sua parte.

Bem vindos de volta!

A paz que eles não querem

No início desse ano, tive de deixar a escola municipal na qual estava trabalhando desde que assumi na rede, em 2009. Não foi voluntariamente que o fiz. Esse ano a Secretaria Municipal de Educação resolveu continuar com uma política de implementação de projetos de correção de fluxo escolar para alunos defasados. A proposta é que cada uma dessas turmas tenha apenas um professor, responsável pelo encaminhamento de todas as disciplinas do currículo. Logo, houve uma diminuição no número de turmas de alunos regulares nas escolas onde os projetos foram implementados.
A escola em que estava, recebeu alguns desses projetos. Como eu era a última professora da disciplina História a assumir (e antiguidade no magistério municipal, é posto), tive que procurar outra escola para chamar de minha e acabei caindo na área da Tijuca, mais especificamente no sub-bairro (se é que isso existe) da Usina.
Aí, tudo novo, de novo. Nova escola, nova direção, novos alunos, novos colegas de trabalho, novas condições. Outra estrutura. Os alunos são em sua maioria do Morro do Borel.
Tive medo. Medo do novo, mas também medo de cair no que minha colega Fátima chama de o Hades da rede municipal. Não é preciso ter muita experiência para saber que a rede tem escolas que são perfeitos Olimpos, mas que tem muito mais escolas semelhantes ao inferno de Dante, nas quais a frase do portal tal como descrita na Divina Comédia, se encaixa perfeitamente: "Deixai toda esperança, ó vós que entrais!"


Frase escrita numa porta arrombada de sala de aula numa escola municipal carioca.

Acabei me surpreendendo porque a escola não era o que eu estava pensando. Tem seus problemas, como todas as escolas da rede, mas tem uma direção muito engajada, que trabalha dia e noite para que a escola funcione bem. Apesar de tudo. Os professores também me surpreenderam positivamente. São professores que se importam com os alunos (minha curta experiência na rede mostra que o contrário não é difícil de achar), que se importam com o seu trabalho.
Bem, mesmo assim, ainda não seria essa vez que eu conseguiria completar a minha carga horária ensinando unica e exclusivamente a disciplina para a qual eu fiz concurso.
A escola não tinha quatro turmas de História para fechar a carga horária e acabei ficando com três turmas de projeto de correção de fluxo. Minha tarefa: dar um tempo, apenas um tempo por semana em cada uma dessas turmas. Parece fácil, né? Mas não é. Os alunos são multirrepetentes, muito desmotivados, indisciplinados. Muitas vezes esse um tempo me fazia repensar a minha escolha pelo magistério e se não era melhor abandonar tentar outros caminhos.
Com essas turmas eu procuro fazer um trabalho de aproximação entre eles (não imaginam como é difícil fazer eles se respeitarem um pouco e se colocar no lugar do próximo) e reflexão sobre temas como drogas, gravidez na adolescência, etc. Entretanto, uma após a outra, minhas tentativas de tornar aqueles cinquenta minutos mais agradáveis fracassavam.
Outro dia, tentei fazer com os alunos dessas turmas um trabalho sobre os significados da paz. Levei como como motivação e ponto de partida as letras das músicas "Minha alma" do Rappa e "Eu só quero é ser feliz" da dupla Cidinho e Doca. Conversando com os alunos sobre os significados da paz para eles, percebi que os referenciais deles acerca da paz são muito diferentes dos nossos e eles percebem isso. O trabalho até que deu certo e rendeu a confecção de cartazes sobre a paz que em breve eu posto aqui.