segunda-feira, 30 de junho de 2014

De volta a lugar nenhum - Parte 1

    Já faz quase um ano que não escrevo no blog, por vários motivos. O primeiro deles é que voltei ao "quase lugar". O lugar desconfortável das pessoas que não conseguem se realizar em algum aspecto. Como esse blog é profissional, cheguei ao lugar da desestância na minha profissão. Pensando retrospectivamente, a última vez que escrevi foi em meio à greve do ano passado. Não me recuperei totalmente da greve de 2013. A experiência de luta coletiva é enriquecedora, mas também muito desgastante. Você fica um tempo apostando todas as suas fichas em prol daquela luta e quando volta para a escola se depara com uma realidade que é tão dura quanto quando você entrou em greve. De que adiantou? O que conseguimos?

    Na volta da greve de 2013 passei um vídeo do desenho do Bob Esponja para os alunos. Achei que era a metáfora perfeita porque no fim das contas tínhamos apenas um pífio aumento no contracheque e os problemas todos continuavam lá. Salas lotadas, falta de recursos, dificuldades de prender a atenção dos alunos. Não sou daqueles professores que acham que a matéria está dada a despeito dos alunos. Quero atenção, sim. Quero que eles aprendam, sim. Só que a realidade é tão distante da expectativa...
 
   Nós ainda ficamos com o ônus de repor as aulas perdidas da greve em dois meses. Trabalhamos contra-turno, sábados, ficamos até mais tarde na escola. Tudo isso contando com a falta de vontade dos alunos que se sentiam prejudicados e injustiçados de estarem ali um minuto que fosse a mais do que o necessário porque os professores haviam ousado fazer greve. Nunca senti tão forte a repulsa dos alunos pela escola e por nós professores. Nunca me senti tão impotente e tão desimportante. É triste perceber que não é só na minha escola que isso acontece. É triste perceber que professores nos quais eu me espelhava estão se deixando abater pela dura realidade. O combustível do nosso trabalho é o interesse, nossa ferramenta é o diálogo. Se não há diálogo, se não há interesse por parte dos alunos não vejo como pode haver aprendizado.

Professores tão jovens quanto eu estão perdendo as esperanças todos os dias. Como podemos estimular os alunos se as nossas forças se esgotam dia após dia? Como posso preparar boas aulas se a tecnologia avança a cada dia e tudo o que eu tenho de recurso na minha sala é um quadro branco e alguns livros didáticos? Se alguém tiver a resposta, me fale. Preciso desesperadamente dela.