quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A África de Kiriku

Bem, o fim do ano chegou. Novembro veio e o blog anda meio abandonado. Muito a fazer e pouco tempo. Aulas para dar, provas para corrigir, cursos para montar, estágios para organizar, uma bolsa de pesquisa a se conseguir, apartamento para reformar, prova da autoescola para passar... Enfim... Estou aqui aproveitando o feriado para tentar colocar em dia as postagens, pois não escrevia desde setembro. Sempre é tempo para se corrigir.
Hoje vou falar para vocês de um achado sensacional, capaz de prender a atenção até mesmo das turmas mais terríveis (como mostra a experiência da professora Ana Lúcia, da sala de leitura da escola). Estou falando do desenho "Kiriku e a feiticeira".
Em maio/junho tive que dar aula de África negra antes da chegada dos europeus para os alunos de 7.º ano. Não sabia muito bem o que fazer para aproximar os alunos dos conteúdos. Já mostrei aqui como fiz no ano passado para familiarizar os alunos com a ideia de África, mas sentia que necessitava fazer algo diferente com essas turmas de alunos mais novos e mais imaturos.
Me incomoda um pouco a forma com que os livros didáticos abordam a África antes da chegada dos europeus, mostrando o Império do Mali e o Reino do Congo. Acho que a ideia é a seguinte: se estudamos a história política europeia, os seus reinos e impérios,  por que não fazer o mesmo com a África?
Acho importante mostrarmos que na África existiam reinos, impérios, mas acho que isso fica muito distante do cotidiano dos nossos alunos. Me sinto mal quando falo da formação dos reinos ibéricos porque acho que não faz o mínimo sentido para eles. Por que com o Reino de Mali e do Congo seria diferente? Precisava de um plano B se quisesse mostrar para eles a importância das histórias na África, o valor que eles dão aos idosos, o modo de vida em aldeias, as vestimentas, enfim, se quisesse aproximar os alunos de pelo menos parte da cultura das Áfricas.
Já conhecia "Kiriku e a feiticeira" e resolvi passar o filme inteiro para eles antes de qualquer discussão. E foi muito produtivo. Todos prestaram a maior atenção. Eles A-D-O-R-A-R-A-M! Não imaginei que um filme com uma história assim, tão diferente dos clássicos da Disney ao qual eles estão acostumados, pudesse fazer tanto sucesso.

Discutimos pontos fantasiosos da história, como o fato do menino nascer falando ou crescer tão rapidamente. Mostrei a eles que o filme foi inspirado em uma lenda africana e que as lendas podem trazer elementos fanstásticos ou mágicos. Achei que o filme também seria importante por mostrar um heroi que foge dos padrões tradicionais, pois é um menino pequeno e negro e uma feiticeira má por conta das circunstâncias às quais foi submetida e não por essência.

Em seguida pedi para eles observarem a aldeia de Kiriku, as vestimentas, a importância da água para as pessoas que viviam nela. Pedi também que escrevessem qual a lição que eles achavam que era principal no filme. Reproduzo abaixo alguns trechos do que eles escreveram (CUIDADO, SPOILERS!):

"A lição que o filme traz é que grandes ou pequenos, nós podemos ajudar."
M. (turma 1702)

"Uma mulher da tribo tem um bebê muito pequeno que ajuda as pessoas para elas não serem pegas pela feiticeira. Todos têm medo da feiticeira, até que Kiriku quis descobrir porque ela era má. Ele descobriu que ela era assim, pois tinham fincado uma estaca nas costas dela. Ele foi até lá e conseguiu arrancar a estaca e ela ficou boa. A feiticeira beijou Kiriku e ele cresceu. Eles viveram felizes para sempre."
 G.L. e M. R. (turma 1702)

"Para eles a água eram importante para fazer suas tarefas e suas necessidades. Exemplo: tomar banho e fazer comida."
R. e S. (turma 1702)

"As casas são de palha e parecidas com as dos índios, só que mais finas"
R. e J. (turma 1702)

Esse blog traz cenas do filme para colorir.

http://solangepedag.blogspot.com.br/2009/09/cenas-do-filme-kiriku-e-feiticeira-para.html

O filme Kiriku foi interessante para introduzir o conteúdo de África de uma forma lúdica e mais próxima dos alunos. Deixei uma cópia do filme na sala de leitura e a professora usou com uma turma de 7.º ano  muito agitada da tarde. Ela disse que os alunos ficaram hipnotizados. O filme é bom, a diversão é garantida e com um trabalho bem feito pode servir como uma ponte entre os alunos e aspectos da cultura africana.

Não custa tentar, pois como diz um ditado africano: "É tentando muitas vezes que o macaco aprende a pular da árvore". (LOPES, Nei. Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2005, p. 67 Apud BOULOS, Afredo. História, Sociedade e Cidadania. 7.º ano. São Paulo FTD, 2009. p. 72)

Um comentário:

  1. Gostei da atividade. Já havia pensado em algo semelhante, mas nunca tive oprotunidade para realizar tal intento. O engraçado é que "Kiriku" sempre passa no Canal Futura e acabei vendo em partes como um desenho animado semanal. Recentemente é que vi o "último episódio", quando Kiriku e a feiticeira tornam-se um casal. Parabéns pelo trabalho.

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