domingo, 2 de dezembro de 2012

Diálogos sem Fronteiras: educação, história e interculturalidade

Olá gente! Hoje eu não estou aqui para falar das minhas invencionices em sala de aula, mas para divulgar um produto do meu outro lado, o de pesquisadora. Acho que as duas coisas são indissociáveis. Pelo menos, no meu eu.  Não me vejo pesquisadora apenas, ou professora, apenas. Sei que são coisas diferentes, mas gosto muito de ser as duas.

Quem pertence ao mundo acadêmico sabe que o nosso trabalho, produzido de forma solitária, é divulgado para os pares por meio de textos que soltamos e deixamos voar livres por aí. Quando fazemos isso, eles já não nos pertencem apenas, mas estão disponíveis para serem apropriados ou criticados.

Publiquei um capítulo, resultado de minha disseração de mestrado, em um livro coletivo chamado "Diálogos Sem Fronteiras". A ideia do livro era  divulgar trabalhos que estão no limite entre as áreas de História e Educação, como o meu. Fica aqui registrado o meu agradecimento aos organizadores Jussara Pimenta, Aires Diniz, Thales Pimenta e Aline Santos Costa.

O livro está em fase de pré-lançamento no site da Editora CRV. Por favor, divulguem a quem possa interessar.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

As maquetes do 6.º ano

Todo professor que mereça tal título fica muito animado quando consegue mobilizar os seus alunos em prol de um trabalho. Desde que entrei para dar aulas na Rede Municipal de Ensino que uma das minhas vontades era fazer um trabalho bem prático com os meus alunos, um trabalho de maquete. Mas vá colocar isso em prática... Experiências anteriores e tentativas frustradas me mostraram que o momento ainda não chegara. Talvez não estava preparada para coordenar um trabalho desses ou as turmas que pegara até então não tinham o perfil desse tipo de trabalho. Sim, a turma tem que ter motivação também, senão o trabalho acaba inviabilizado por falta de material, ou mesmo por falta de vontade de fazer um trabalho bem feito.
Esse ano peguei uma turma de 6.º ano e senti que daria para fazer o trabalho com eles. Eles são bem pequenos e por isso, ainda se motivam com trabalhos práticos.
A primeira etapa do trabalho foi a escolha pelos grupos de um assunto que trabalhamos ao longo do ano letivo. A ideia é que as maquetes fossem o fechamento e a avaliação do que os alunos aprenderam ao longo do ano. Assim, poderia perceber o que eles entenderam sobre a importância dos rios, as atividades econômicas, a construção de cada espaço, em cada tempo que estudamos e sua capacidade de se organizar para dar conta de um trabalho que demandava planejamento e esforço. Assim, propus cinco assuntos estudados ao longo do ano: Pré-História, Mesopotâmia, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga.
A primeira etapa do trabalho consistiu na pesquisa. Nessa etapa, tive ajuda da professora Lúcia da sala-de-leitura, que emprestou os livros paradidáticos e didáticos que os alunos usaram como base para entender melhor as representações geográficas de cada sociedade estudada. Em sala, também tive a ajuda da internet para mostrar aos alunos como poderiam construir suas maquetes e o que era isso, já que muitos nunca tinham feito esse tipo de trabalho.

Os livros abaixo foram usados como material de apoio. Eles já são um pouco antigos, mas contêm imagens muito boas sobre as sociedades em questão. Eles são facilmente encontráveis em sebos e livrarias.






A segunda etapa foi o planejamento do material a ser utilizado e a organização propriamente dita do trabalho. Cada membro do grupo ficou responsável por providenciar esse material e confeccionar as maquetes.
A terceira etapa foi a apresentação para a turma do trabalho realizado.
Eis aí, o resultado:


A pré-história das meninas, com o surgimento do fogo. 


A Mesopotâmia. Vejam se não é o Michael Jackson dentro do Zigurate. 

O Egito com as pirâmides e o Rio Nilo. 


Mais uma do Egito com as múmias e o Rio Nilo feito de gel para cabelo. O tamanho do boneco que representa o faraó se explica pelo fato dele ser o mais importante na sociedade. 

Outra do Egito feito com areia de verdade. 

Mais uma do Egito. Quando eu perguntei se no Egito existia coqueiros, o aluno prontamente me respondeu: É uma miragem, professora! (rsrsrsr)

Roma Antiga com as lutas de gladiadores e corridas de bigas. 

Bem, as maquetes ficaram bem legais e a experiência valeu muito. Pelas caras dos alunos, parece que eles gostaram bastante e ficaram bem satisfeitos com os seus trabalhos. A auto-estima deles melhora muito quando são capazes de perceber o seu potencial e estimulados a dar o melhor de si. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Fragmentos de Roma Antiga

Tenho uma turma terça-feira à tarde que é terrível. Quer dizer, a pauta tem 52 alunos, porque o tempo todo entram e saem alunos da turma. Os que estão comigo desde o início do ano contam-se nos dedos. É uma turma de 6.º  ano (1606) de alunos defasados em idade e aprendizagem e muito indisciplinados. Poucos se interessam por qualquer coisa que eu leve e como fico com eles três tempos de cinquenta minutos na terça-feira, as aulas costumam ser bastante cansativas.
Percebi, entretanto, que eles gostam de trabalhos diversificados e essas aulas rendem mais. O problema é como fazer um trabalho com uma turma que não têm nenhum tipo de material? Comprar tudo? Pegar na escola? Às vezes dá certo, às vezes não.

Como estávamos trabalhando com Roma Antiga pensei em propor um trabalho com mosaico. Dividi a turma em pequenos grupos, consegui emprestado umas tesouras e colas na escola e comprei papel colorido, uma cartolina de cada cor. Dividi o papel dando um pedaço de cada cor para cada grupo.

Expliquei que o mosaico é uma técnica muito antiga produzida com pequenas pastilhas de cerâmica ou pedrinhas que são dispostas para formar uma imagem maior. Disse que os romanos antigos, que estamos estudando, gostavam muito da técnica e a usavam para decorar ambientes. Mostrei alguns mosaicos romanos, como os que estão abaixo:

Mosaico do Império Romano em Vichten, em Luxemburgo, representando Tália, a musa da comédia

O poeta romano Virgílio (Século III)
Entreguei alguns desenhos para os grupos retirados desses sites: 




Expliquei que eles deveriam a partir daqueles desenhos produzirem mosaicos. 

O resultado foram esses  mosaicos produzidos pelos meus romanos: 
A lenda da fundação de Roma ganhou novos contornos, pois mesmo que Rômulo e Remo fossem gêmeos, um era branco (ou rosa) e o outro negro (rsrsrs)


 As classes sociais. Repare no chapéu do plebeu!

Um autêntico capacete de soldado romano todo em ouro e prata. 



O Coliseu. 

O gladiador pronto para combater dentro dele. 


Dois modelitos usados pelos soldados romanos. 
 As residências romanas. 

Acho que os trabalhos ficaram muito bons. Acho que eles aprenderam muito com os mosaicos e gostaram de fazer. Pelo menos, achei que se envolveram com o trabalho. 







A África de Kiriku

Bem, o fim do ano chegou. Novembro veio e o blog anda meio abandonado. Muito a fazer e pouco tempo. Aulas para dar, provas para corrigir, cursos para montar, estágios para organizar, uma bolsa de pesquisa a se conseguir, apartamento para reformar, prova da autoescola para passar... Enfim... Estou aqui aproveitando o feriado para tentar colocar em dia as postagens, pois não escrevia desde setembro. Sempre é tempo para se corrigir.
Hoje vou falar para vocês de um achado sensacional, capaz de prender a atenção até mesmo das turmas mais terríveis (como mostra a experiência da professora Ana Lúcia, da sala de leitura da escola). Estou falando do desenho "Kiriku e a feiticeira".
Em maio/junho tive que dar aula de África negra antes da chegada dos europeus para os alunos de 7.º ano. Não sabia muito bem o que fazer para aproximar os alunos dos conteúdos. Já mostrei aqui como fiz no ano passado para familiarizar os alunos com a ideia de África, mas sentia que necessitava fazer algo diferente com essas turmas de alunos mais novos e mais imaturos.
Me incomoda um pouco a forma com que os livros didáticos abordam a África antes da chegada dos europeus, mostrando o Império do Mali e o Reino do Congo. Acho que a ideia é a seguinte: se estudamos a história política europeia, os seus reinos e impérios,  por que não fazer o mesmo com a África?
Acho importante mostrarmos que na África existiam reinos, impérios, mas acho que isso fica muito distante do cotidiano dos nossos alunos. Me sinto mal quando falo da formação dos reinos ibéricos porque acho que não faz o mínimo sentido para eles. Por que com o Reino de Mali e do Congo seria diferente? Precisava de um plano B se quisesse mostrar para eles a importância das histórias na África, o valor que eles dão aos idosos, o modo de vida em aldeias, as vestimentas, enfim, se quisesse aproximar os alunos de pelo menos parte da cultura das Áfricas.
Já conhecia "Kiriku e a feiticeira" e resolvi passar o filme inteiro para eles antes de qualquer discussão. E foi muito produtivo. Todos prestaram a maior atenção. Eles A-D-O-R-A-R-A-M! Não imaginei que um filme com uma história assim, tão diferente dos clássicos da Disney ao qual eles estão acostumados, pudesse fazer tanto sucesso.

Discutimos pontos fantasiosos da história, como o fato do menino nascer falando ou crescer tão rapidamente. Mostrei a eles que o filme foi inspirado em uma lenda africana e que as lendas podem trazer elementos fanstásticos ou mágicos. Achei que o filme também seria importante por mostrar um heroi que foge dos padrões tradicionais, pois é um menino pequeno e negro e uma feiticeira má por conta das circunstâncias às quais foi submetida e não por essência.

Em seguida pedi para eles observarem a aldeia de Kiriku, as vestimentas, a importância da água para as pessoas que viviam nela. Pedi também que escrevessem qual a lição que eles achavam que era principal no filme. Reproduzo abaixo alguns trechos do que eles escreveram (CUIDADO, SPOILERS!):

"A lição que o filme traz é que grandes ou pequenos, nós podemos ajudar."
M. (turma 1702)

"Uma mulher da tribo tem um bebê muito pequeno que ajuda as pessoas para elas não serem pegas pela feiticeira. Todos têm medo da feiticeira, até que Kiriku quis descobrir porque ela era má. Ele descobriu que ela era assim, pois tinham fincado uma estaca nas costas dela. Ele foi até lá e conseguiu arrancar a estaca e ela ficou boa. A feiticeira beijou Kiriku e ele cresceu. Eles viveram felizes para sempre."
 G.L. e M. R. (turma 1702)

"Para eles a água eram importante para fazer suas tarefas e suas necessidades. Exemplo: tomar banho e fazer comida."
R. e S. (turma 1702)

"As casas são de palha e parecidas com as dos índios, só que mais finas"
R. e J. (turma 1702)

Esse blog traz cenas do filme para colorir.

http://solangepedag.blogspot.com.br/2009/09/cenas-do-filme-kiriku-e-feiticeira-para.html

O filme Kiriku foi interessante para introduzir o conteúdo de África de uma forma lúdica e mais próxima dos alunos. Deixei uma cópia do filme na sala de leitura e a professora usou com uma turma de 7.º ano  muito agitada da tarde. Ela disse que os alunos ficaram hipnotizados. O filme é bom, a diversão é garantida e com um trabalho bem feito pode servir como uma ponte entre os alunos e aspectos da cultura africana.

Não custa tentar, pois como diz um ditado africano: "É tentando muitas vezes que o macaco aprende a pular da árvore". (LOPES, Nei. Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2005, p. 67 Apud BOULOS, Afredo. História, Sociedade e Cidadania. 7.º ano. São Paulo FTD, 2009. p. 72)

sábado, 1 de setembro de 2012

Os índios só existiram no Brasil até 1500?

Conversando com a minha irmã, que é professora de educação infantil nos questionávamos por que nas séries iniciais do ensino fundamental os povos indígenas eram sempre retratados no Dia do Índio de forma estereotipada e simplificadora, como se existisse uma essência, uma imagem que dissesse respeito a todos os povos indígenas brasileiros.
Essa visão é ainda hoje muito divulgada por produções culturais voltadas para o público infantil. Tipo, a música "Brincar de índio" da Xuxa.


Qual não foi minha surpresa ao preparar uma aula sobre os povos indígenas do Brasil e perceber que muitas das ideias sobre o índio que nos foram ensinadas nos primeiros anos da escola ainda permanece no "coração" e nas "mentes" das pessoas. Não é à toa que os pesquisadores de ensino de História são veementes em afirmar que as interpretações veiculadas nos nossos anos de escolarização nos acompanham por muitos anos.

Percebi isso ao ver o vídeo da TV Escola "Índios no Brasil - Quem são eles?". Ao serem perguntados sobre os índios no Brasil, as pessoas veiculam preconceitos ainda muito difundidos (embora o vídeo seja da década de 1990): "que vivem nas matas", "caçam", "pescam", "são preguiçosos", "são selvagens, quase bichos", "não existem mais", "o índio quando sai de sua tribo deixa de ser índio".

Para trabalhar com os meus alunos de 7.º resolvi partir desse vídeo e identificar as visões essencializadas mais comuns sobre os índios. Pedi que me dissessem antes da exibição do vídeo o que eles sabiam sobre os índios no Brasil. Muitas das visões dos alunos eram bem parecidas com as visões veiculadas no vídeo.



Um dos trechos mais interessantes é quando é perguntado a uma menina com claras feições indígenas se ela era índia e a resposta é negativa. Entretanto, quando é perguntado a ela o que ela é ela não sabe responder.
Fizemos um debate em torno das questões vistas no vídeo: Se um índio sai de sua tribo e vai viver na cidade, ele deixa de ser índio? Os povos indígenas desaparecerão no Brasil? Engraçado perceber como os estereótipos ainda têm força.

Trabalhei com os alunos o material de um suplemento da revista Recreio sobre algumas das etnias indígenas que  vivem no Brasil.

O material foi disponibilizado nesse blog: 
http://escola-zezito.blogspot.com.br/2009/04/19-de-abril-dia-do-indio.html

E com a música "Pindorama" do grupo Palavra Cantada. 



Uma das coisas que mais me incomoda na forma como os indígenas são tratados é que eles são mostrados com uma ingenuidade e incapacidade intrínsecas. Mesmo a explicação recorrente da substituição da mão-de-obra indígena pela africana se fez durante muitos anos baseada na inadaptabilidade (essa palavra existe?)  do indígena ao trabalho pesado nas lavouras de cana. Essa visão do indígena como um ser retrógrado, incapaz, que deve ser protegido ainda persiste nos dias de hoje, como mostram algumas visões presentes no vídeo. Os índios fazem parte da natureza morta e como as árvores necessitam ser salvos.



Lembro que um dos momentos mais marcantes da faculdade de História, foi quando tive a oportunidade de conhecer o livro do antropólogo francês Pierre Clastres, "A sociedade contra o Estado". Na coletânea de textos, Clastres (um anarquista, segundo meu professor de História da América I) afirma que a sociedade civil pode prescindir da figura do Estado e para demonstrar a sua tese analisa a experiência de povos indígenas da América do Sul. Para o autor, as sociedades indígenas não seriam menos evoluídas por não contarem com a presença de um Estado centralizado. O autor vai ainda mais longe ao afirmar que as sociedades indígenas possuem mecanismos culturais que impedem o aparecimento de figuras de chefias com poder concentrado. Nesse sentido, tais sociedades não estariam em um "processo de evolução" que favoreceria o aparecimento de um estado, mas estariam quase conscientemente "contra" o aparecimento desse Estado, uma vez que ele não apresentaria uma evolução e sim o contrário.

http://editora.cosacnaify.com.br/ObraSinopse/ObraSinopse/10654/A-sociedade-contra-o-Estado.aspx

Assim, ao pensar em conteúdos que poderiam simplificar essa visão para os alunos e mostrar que os indígenas não necessariamente estão em uma escala evolutiva inferior, me lembrei de um projeto desenvolvido pelo professor de História do meu irmão (que hoje tem 22 anos) sobre a cosmologia do povo indígena Kalapalo.

O projeto foi desenvolvido pelo professor César Lemos e apresentado na I Feira de Ciências da Fundação
Planetário e da 2ª Coordenadoria Geral de Educação no ano de 2003. O trabalho mostrou por meio do estudo da visão de mundo dos indígenas Kalapalo que os índios podem sim, criar ciência.

Segundo o aluno  Douglas Galeno do Vale, na época com 13 anos, monitor da exposição ocorrida em 2003 e orgulho da mana, “Há tribos que fazem ciência ao investigar, por exemplo, que tipo de árvore (casca) se adequa à construção de uma canoa. Eles investigam e criam a tecnologia ao produzir a embarcação”. Outra aluna participante do projeto afirma: “Foi bacana perceber que ciência não é só tecnologia. Há várias maneiras de se fazer ciência e muitos temas que inspiram uma investigação científica”.

Maquete do projeto "O céu dos índios Kalapalo"

A experiência completa do trabalho sobre os índios Kalapalo, bem como os outros projetos que foram destaque da mostra pode ser acessada aqui: http://portalmultirio.rio.rj.gov.br/portal/_download/revista17.pdf

O importante, é encontrar jeitos de mostrar para os alunos que os indígenas são capazes de produzir conhecimentos válidos. Eles são capazes de pensar, de refletir e de agir sobre o mundo que os cerca. Eles não são apenas um dos elementos exóticos integrantes da nossa nacionalidade. Eles não estão apenas no passado e as recentes questões em torno das demarcações das terras indígenas são uma prova de que os índios são mais que capazes de agir e lutar pelo que é seu por direito. Afinal, eles além de indígenas, também são brasileiros.

sábado, 25 de agosto de 2012

Quadrinhos, melhor não lê-los em sala...Mas se não lê-los, como sabê-los?

Gente, uma das minhas maiores frustrações é que eu simplesmente ADORO quadrinhos, mas nunca consegui passar de forma satisfatória para os meus alunos essa minha paixão. Certa vez, quando dava aula de CEST para o sétimo ano (era para ser reforço de Português e Matemática, mas o que eu fazia mesmo era discutir valores) resolvi passar o filme "Escritores da Liberdade",  como eles se interessaram pelo filme, resolvi abordar mais a fundo a temática do Holocausto. Para isso, me utilizei de fragmentos do livro "O Diário de Anne Frank" e da história em quadrinhos "Maus: a história de um sobrevivente", de Art Spiegelman. Maus, que significa "rato" em alemão é a história de um judeu polonês que sobreviveu no campo de concentração de Auschwitz. Art, autor do quadrinho é filho desse judeu, chamado Vladek Spiegelman e ganhou vários prêmios, como o Pulitzer, feito memorável para um livro de quadrinhos. Mas, mais do que os prêmios que o fizeram famoso, Maus é um quadrinho psicológico, que tem um estilo sujo e uma das maiores graças (se é que pode haver alguma graça em tratar do Holocausto) é a representação dos personagens como animais: judeus são ratos, nazistas são gatos, norte-americanos são cães, poloneses são porcos e franceses são sapos.



Achei que eles iam gostar, mas não gostaram. Acharam chato, acharam os desenhos feios. Não entenderam a proposta. Na época, como professora iniciante, não fui atrás das causas do insucesso, mas hoje, pensando bem, acho que os alunos não estão acostumados a esse formato de história em quadrinhos mais sombrio, herdeiro das HQs norte-americanas, estilo Marvel e DC Comics. Como eu disse, não há como tratar do Holocausto de forma cômica e esse é o maior mérito de Maus. Mesmo sendo um quadrinho, consegue passar toda a angústia e os questionamentos vividos pelo personagem, que não consegue entender toda a avareza e rabugisse do seu pai. É impossível ter vivido a experiência de Auschwitz sem ficar com marcas indeléveis.

No Brasil, as produções mais famosas no gênero são infantis e cômicas (vide Maurício de Souza e Ziraldo). Não conheço nenhum quadrinho brasileiro que seja no estilo "Maus". Mas ainda assim, gostaria de tentar mais, de buscar outras formas de trabalhar com os quadrinhos, de trabalhá-los em sala como gênero textual.
Estou pensando em trabalhar novamente com Maus e com "V de Vingança", dessa vez com o 9.º ano. Estou novamente enfrentando o tema do Holocausto e quem sabe com alunos mais velhos a ideia não vinga?

Acredito que "V de Vingança" tem potencial para dar ideia aos alunos dos regimes totalitários. Os alunos conhecem a história por causa do filme lançado em 2006. Seria ótimo poder fazer um contraponto entre as duas linguagens, mas a escassez de tempo atrapalha. Além disso, a popularidade da máscara de Guy Fawkes em protestos recentes pelo mundo afora, parece ótima para mobilizar os alunos em torno de temáticas como a cidadania e a consciência política agora em tempos de eleições.



Vamos ver o que consigo fazer. Como sugestão, deixo aqui alguns links de História em Quadrinhos que podem ser utilizadas para trabalhar temáticas no ensino de História.

Abaixo, uma sequência didática elaborada pelo LEMAD, Laboratório de Ensino e Material Didático da USP que dá sugestões de como trabalhar a atuação dos Estados Unidos nas guerras, no século XX, a partir dos quadrinhos:

http://lemad.fflch.usp.br/node/1650

Nesse caso, são utilizadas as HQs do Capitão América, Super-Homem, entre outras.

A Proclamação da República contada pela simpática Turma da Mônica. Acredito que essa tem potencial para despertar o interesse dos alunos, uma vez que já é uma HQ conhecida deles.

http://emefmiguelcouto.blogspot.com.br/2011/11/proclamacao-da-republica-em-quadrinhos.html

Quadrinhos disponíveis para download sobre várias temáticas e tempos históricos.

http://historianreldna.pbworks.com/w/page/49091100/HIST%C3%93RIA%20E%20QUADRINHOS

Histórias em quadrinhos têm potencial para transformar as aulas em momentos mais divertidos, só não sei ainda como utilizar essa ferramenta de forma mais satisfatória. Se alguém quiser experimentar e contar sua experiência aqui, o espaço é aberto. Por ora, espero que divirtam-se com os quadrinhos indicados. Asseguro que vale à pena!






Eco-arraiá do Gonzagão

Bem, amigos, mais uma vez fiquei um período maior do que gostaria sem escrever no blog. Hoje vim contar para vocês sobre um evento que aconteceu na escola mês passado (mais precisamente no dia 12 de julho), a nossa Festa Julina.
A ideia inicial da coordenadora era fazer um Arraiá ecológico e que homenageasse Luiz Gonzaga. Até aí tudo bem. Mas como mobilizar os alunos em prol da festa? Eles adoram competição, então, o jeito encontrado foi fazer uma gincana entre as turmas. A turma que conseguisse mais prendas para as barracas e fizesse mais bandeirinhas para enfeitar a festa ganharia um passeio. Cada professor se tornaria responsável por ajudar a turma nas barracas de brincadeiras e na gincana. Os professores e pasmem, os alunos também, se engajaram verdadeiramente no projeto. Merece destaque a atuação do Grêmio da escola, que desempenhou de maneira excepcional o seu trabalho de fazer a contagem de pontos da gincana.
Por aproximadamente duas semanas a escola girou em torno disso. Os trabalhos tinham por tema festa junina, Luiz Gonzaga e sustentabilidade (tema da moda) e serviram para enfeitar o pátio da escola. Para cada turma foi sorteada uma música de Luiz Gonzaga e os alunos tinham que elaborar uma paródia cujo tema fosse sustentabilidade. As paródias ficaram sensacionais.
Fui escolhida pela turma 1801, com muita surpresa, para ser a professora madrinha da turma. Desde o ano passado tenho alguns problemas com essa turma em sala. Faço malabarismo todas as aulas para tentar prender a atenção deles. Embora eles sejam uma turma que gosta de trabalhar e trabalha bem em equipe, as aulas expositivas com eles, por mais que eu me esforçasse, nunca funcionaram.
Eles são mesmo surpreendentes e se engajaram de uma forma que eu nunca vi. Resolvi embarcar nessa também. Ajudei a confeccionar o letreiro da  barraca, consegui pneus, material reciclável, comprei tinta e fizemos uma pescaria ecológica, cujo objetivo era pescar o lixo do rio. Detalhe: o nosso rio era feito com pneus. Uma ideia que foi tirada da internet.
Das outras barracas, infelizmente, não sobraram fotos, uma vez que aconteceu um problema com a máquina da escola, mas a festa foi um sucesso. Todas as barracas tiveram uma temática sustentável. Teve casamento na roça (ensaiado com a professora Rosa de teatro), quadrilha, barraca de comidas típicas e barracas de brincadeiras (tudo organizado e gerenciado pelos alunos). Deixo aqui as fotos da barraca da pescaria, que foram tiradas do meu celular:


Letreiro feito com revistas pelos próprios alunos da turma 1801. 


Os pneus que conseguimos em uma borracharia próxima à escola pintados por mim e pelos alunos. 

Os alunos na barraca. 

A festa foi divertidíssima para os alunos e para nós professores e mostrou que nem só de sala de aula vive uma escola. Meu relacionamento com a turma 1801 melhorou muito depois da festa. Essa experiência mostrou que é possível levar à frente um projeto coletivo quando todos se mobilizam em torno disso. 

domingo, 17 de junho de 2012

Hoje o tempo voa, escorre pelas mãos...

Esses dias estava pensando em um filme para passar para o 8.º ano, uma vez que eles estavam me cobrando. Estava  esperando a oportunidade, quando veio o assunto: Revolução Industrial. Um dos melhores filmes que conheço para trabalhar com o assunto é o clássico "Tempos Modernos", de Charles Chaplin. Eu mesma vi o filme na escola e conheci Chaplin a partir do mesmo. Na época achei genial.

Hoje em dia, os alunos conhecem muita coisa, tem acesso a muita coisa, mas apresentar um filme quase mudo para eles introduz uma linguagem diferente, à qual eles não estão acostumados. Não sei o motivo, mas Chaplin consegue chegar até eles. Acho que eles vão gostar. O filme na íntegra está no Youtube:


Atenção especial deve ser dada aos trechos iniciais do filme, em que aparece um relógio e um rebanho de ovelhas. Já trabalhei com a explicação da Revolução Indistrial previamente e tratei das mudanças introduzidas na produção e na vida das pessoas. Expliquei que para os trabalhadores a mudança para as cidades significou a adoção de novos hábitos, como a marcação do tempo pelo relógio e não mais pelos ciclos da natureza. Fiz um paralelo com os tempos de aula na escola e pelo filme eles poderão perceber que as fábricas também tinham um sinal sonoro para avisar os trabalhadores dos horários de entrada, trabalho, pausa e saída. Perguntei se eles conseguiam imaginar a nossa vida sem relógios nos dias de hoje. A maioria disse que não, pois tudo é marcado pelo relógio, inclusive o horário da novela na televisão (risos).

Outros pontos que podem ser abordados e que são muito presentes no filme são a divisão do trabalho, na qual cada trabalhador realizava uma etapa processo, a desumanização do trabalhador, sua coisificação, a glorificação do trabalho e o desemprego como degradação do homem.

Importante também atentar que, embora o filme seja de 1936 e tente retratar uma realidade da época pós-crise de 1929, as cenas iniciais das fábricas mostram situações e conflitos que começaram a se gestar  no século XVII com o surgimento das fábricas. 

Em seguida, pretendo discutir com os alunos esses pontos, retomando-os a partir do fragmento de "O nascimento das fábricas" de Edgar de Decca: 

"Dentre todas as utopias criadas a partir de século XVI, nenhuma se realizou tão desgraçadamente como a da sociedade do trabalho. Fábricas-prisões, fábricas-conventos, fábricas sem salário, que aos nossos olhos adquirem um aspecto caricatural, foram sonhos realizados pelos patrões e que tornaram possível esse espetáculo atual de glorificação do trabalho. Para se ter uma idéia da força dessas utopias realizadas impregnando todos os momentos da vida social a partir do século XVIII, basta considerarmos a transformação positivo do significado verbal da própria palavra trabalho, que até a época Moderna sempre foi sinônimo de penalização e de cansaços insuportáveis, de dor de esorço extremo, de tal modo que a sua origem só poderia estar ligada a um estado extremo de miséria e de pobreza. 

Introjetar um relógio moral no coração de cada trabalhador foi a primeira vitória burguesa, e a fábrica pareceu desde logo como uma realidade estarrecedora onde esse tempo útil encontrou o seu ambiente natural, sem que qualquer modificação tecnológica tivesse sido necessária. Foi através da porta da fábrica que o homem pobre, a partir do século XVIII, foi introduzido ao mundo burguês”.

(Edgar de Decca. O Nascimento das fábricas. São Paulo: Brasiliense. 1985. p. 10)


sexta-feira, 8 de junho de 2012

"A onda" ou o fascismo está em nós.

Quando eu estava ainda no ensino fundamental, no colégio municipal em que estudei, tive um professor de Geografia que era literalmente "o cão chupando manga". Na primeira prova dele apenas cinco pessoas (de uma turma de mais de 30) se safaram de tirar notas vermelhas. Com ele, tive a minha primeira experiência de fazer trabalhos em grupo de verdade, nos quais o grupo tinha que se reunir para pesquisar a fundo um assunto e organizar verdadeiramente os resultados da pesquisa. Obviamente, a maioria dos alunos não gostava dele. Eu não tinha uma opinião formada. Sempre gostei de estudar e sempre gostei de Geografia (não é à toa que enveredei pelo caminho da disciplina irmã, História) e não via problemas em "perder" o meu tempo com os trabalhos e provas. Entretanto, nunca gostei da maneira arrogante com a qual ele lidava com os alunos, como se fossem idiotas.
Eu mesma senti isso na pele uma vez quando tentei participar de uma aula sobre a Alemanha. Tentando mostrar que já tinha ouvido falar sobre o assunto nazismo, mencionei que vira na televisão um filme sobre uma moça alemã que escondeu judeus em casa e assim salvara a vida deles. Eu não me lembro o nome do filme. Meu professor disse secamente que nós não deveríamos ver esses filmes que mostravam alemães salvando a vida de pobres judeus, pois eles eram tendenciosos. Obviamente, naquela época não entendi muito bem o motivo dessa "proibição", entretanto, hoje entendo muito bem.

Naquela época, o filme mais famoso sobre o Holocausto era "A Lista de Schindler", juntando A + B poderíamos pensar, do alto dos nossos 12, 13 anos que todos os alemães fizeram das tripas coração para salvar judeus em apuros e realmente não era essa a ideia. Alguns alemães podem sim ter arriscado a sua vida para esconder judeus em perigo, mas em contrapartida, quantos outros alemães apoiaram o nazismo? Quantos viam os judeus desaparecer sem se questionar para onde estavam indo? Quantos sabiam do extermínio praticado nos campos? Pesquisas recentes mostram que, ao contrário das versões que dizem que as atrocidades nazistas eram desconhecidas da maioria da população, a sociedade alemã tinha acesso a essas informações por meio da imprensa.

 
(Para entrevista com o autor, ver o link: http://veja.abril.com.br/noticia/internacional/os-alemaes-sabiam-e-aplaudiam-atrocidades-do-nazismo)

Hoje, professora, estava justamente discutindo com outra professora de História esses dias, como os assuntos Segunda Guerra Mundial e Holocausto interessam os alunos do ensino fundamental. Eles questionam e trazem referências anteriores sobre o assunto vista, sobretudo, em filmes. Comentávamos até que esse interesse todo merecia um estudo.
"A Onda" é um filme espetacular justamente por mostrar uma experiência educacional - que a princípio teria tudo para ser bem sucedida para explicar o fenômeno do nazi-fascismo. O objetivo era mostrar na prática aos alunos como funciona o mecanismo de envolvimento dos regimes totalitários e evidenciar como esses regimes buscavam não somente subjugar as pessoas, mas, sobretudo, conquistá-las.
O filme é baseado em uma experiência ocorrida na Califórnia em 1967. Tal experiência já tinha dado origem a livros e a um documentário. Ganha  agora, a versão do cinema alemão, que vem produzindo filmes espetaculares para reflexão sobre fenômenos da história recente, tais como "Adeus Lênin" e "A vida dos outros".



Ao tentar explicar para seus alunos o funcionamento de um regime autocrático, o professor de ensino médio Rainer Wegner (Jürgen Vogel) é questionado por eles sobre a possibilidade de um regime como o nazista ascender nos dias de hoje. Rainer propõe uma experiência de forte cunho teatral: cria um grupo e torna-se o líder dele. Logo, o grupo ganha um nome "A Onda", uniformes, um slogan e é aí que as coisas começam a fugir do controle. Os alunos, envolvidos com "A Onda" começam a praticar atos de vandalismo, bem como agressões e coação aos alunos que não pertencem ao grupo. Quando o professor tenta encerrar a experiência, é tarde demais.


É um filme que vale a pena ser assistido por professores juntamente com seus alunos, ou não e suscita questões filosóficas acerca da necessidade de pertencimento, a tendência humana a abrir mão da liberdade em prol de uma causa e a intolerância, assunto tão em voga nos dias de hoje em diversos países, dentre eles o Brasil.
Por fim, deixo o discurso do professor Rainer Wegner, proferido no filme como fonte de reflexão:

“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”.

A questão permanece: o fascismo está mesmo em nós?




sábado, 31 de março de 2012

Eu sou Espártaco!

Esses dias estava discutindo com o meu namorado a estética dos recentes filmes que têm saído que tratam de temáticas relacionadas à História Antiga. Desde Troia tenho me decepcionado com esses filmes mirabolantes que prometem mais do que cumprem. Na verdade, eles trazem muito mais ação e efeitos especiais do que propriamente uma história fiel às fontes, mesmo que mitológicas.

Ao mesmo tempo, releituras, digamos, mais "realistas", mais sujas, de filmes clássicos têm aparecido, como foi o caso do recente "Fúria de Titãs", que também não me agradou muito e foi o mote da minha discussão doméstica. Meu namorado me acusa de gostar apenas de filmes "cult". Assumo que Blockbusters nem sempre fazem a minha cabeça e que raramente assisto um filme com o intento de apenas me divertir. Fico sempre observando os figurinos, os elementos estéticos, a verossimilhança... Coisa de historiador!

Entretanto, quando se trata de escolher filmes para passar em sala de aula acabo não escolhendo o que mais agrada. Os alunos devem adorar esses filmes cheios de ação e sangue, entretanto, como em meus primeiros anos na rede municipal só pegava 6.º e 7.º anos não me atrevia a passar filmes que não estivessem de acordo com a faixa etária. Esse ano estou pensando em fazer a experiência com o tal recente  "Fúria de Titãs" (confesso que só tenho em casa aquela versão antigona!) e ver o que acontece.

Há uns dois anos atrás em busca de um filme que pudesse ser mostrado para os meus pequenos gladiadores do 6.º ano, resolvi passar Spartacus. Sim, aquele de 1960, longuíssimo, antiquíssimo e talvez alguns dirão, chatíssimo... Sim, a versão do Stanley Kubrick, que traz o Kirk Douglas no auge da fama. Mas por que cargas d'água, dirão vocês, a escolha desse filme tão diferente dos que os alunos estão acostumados?



Exatamente pelo que já coloquei anteriormente. Os filmes recentes contêm muitas cenas inadequadas para a idade deles e eu resolvi mostrar exatamente uma estética diferente, que contivesse cenas de ação, romance e aventura, mas não cenas de sexo e efeitos mirabolantes.

Obviamente, não passei os 198 minutos (!) do filme.  Fiz uma seleção de algumas cenas nas quais os alunos pudessem identificar como alguém se tornava escravo em Roma, que também mulheres e crianças poderiam ser escravos, como um escravo tornava-se gladiador e principalmente, escolhi mostrar um escravo loiro e de olhos azuis para dissociar a ideia de escravidão da cor da pele. Expliquei que na Antiguidade a escravidão estava associada a outros fatores.

Passei um texto muito legal do livro Espártaco e seus gloriosos gladiadores, da Coleção "Mortos de Fama", que, se não mencionei em outros posts deveria ter mencionado, pois é sensacional. Aliás, deveria fazer um post tratando dessa coleção. Fica a promessa.



O texto fala do motivo de Espártaco ser considerado um "Morto de fama". Eis o trecho selecionado:

 "Ele não era rico, não foi rei, nem imperador, nem inventor, nem nada do tipo. Na real, Espártaco era apenas um escravo. Então por que é que 2 mil anos depois da sua morte seu nome inspirou filmes, livros e revoluções pelo mundo todo? Por que exatamente ele seria um morto de fama?"

Imagem extraída do livro "Espártaco e seus gloriosos gladiadores"

"O.k., ele até que fez umas coisas legais. Mas na verdade ele não só enfrentou os romanos. Espártaco e seu exército de escravos libertos VENCERAM os romanos. Imagine a vergonha das tropas de choque romanas ao serem derrotadas por um bando de escravos sujismundos. Mas o pior de tudo era um gladiador ter liderado um exército de escravos. Para os romanos, os gladiadores eram a coisa mais baixa que podia haver no mundo. 
Os historiadores romanos gostavam de escrever sobre “Grandes Homens”. Escreveram muito sobre imperadores e generais romanos, mas os fatos mais bizarros de suas histórias foram pra debaixo do tapete. Um ou outro escreveu sobre Espártaco e seu exército de escravos... provavelmente
tinham um pouco de vergonha da coisa toda. Salústio foi um dos historiadores que escreveu sobre Espártaco.
Ele era um adolescente quando Espártaco ainda lutava na arena. Para nossa felicidade, Salústio escreveu um
relato detalhado da guerra dos escravos contra os romanos. Para nossa infelicidade, sobrou pouca coisa do que ele escreveu.
 (...)
Salústio descreveu Espártaco como um homem “grande no corpo e na alma” — se você quer ser gladiador e líder de um exército, cá entre nós, é bom ter as duas coisas. Mas Salústio nunca descreveu seu rosto. Na verdade, ninguém conhecia a cara de Espártaco até 1960, quando saiu um filme sobre ele estrelado por um ator chamado Kirk Douglas. Pergunte a qualquer adulto como Espártaco parecia e eles vão dizer que ele tinha cabelo loiro espetado, olhos azuis marcantes e uma covinha bem no meio do queixo. Claro
que a versão de Hollywood não mostrou que ele devia ter cabelos escuros, o nariz quebrado e vários dentes a menos. Esse é o problema de Hollywood: eles faxinam a história para tudo parecer bonitinho."

Imagem extraída do livro "Espártaco e seus gloriosos gladiadores"

Bingo! Chegamos ao filme! E por meio desse texto pude reforçar com os alunos o conceito de fontes históricas, o trabalho do historiador para interpretar relatos muitas vezes esparsos e saber como as coisas talvez aconteceram e toda a construção em torno do filme e da figura de Espártaco como um herói e a escolha de um ator bonitão ajudou. Mesmo sendo um filme antigo, acho que consegui atingir o meu objetivo. Ah, e os alunos gostaram. Juro para vocês! A única dificuldade foi o fato da versão que eu peguei não ter áudio em português, só legendas. Nem todos os alunos de 6.º ano conseguem acompanhar, mas eu fui explicando tudo para eles e eles se mostraram muito interessados.

Espero que vocês tenham gostado também. Vale muito a pena trabalhar com filmes, sejam eles recentes ou antigos, desde que se mostrando para além do filme em si, a construção que se faz em torno do enredo, a escolha da temática, desde que se possa tirar algo dali. Eu gostei muito do resultado.




quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Aqui começa nossa História, ou melhor, nossa pré-história.


Desculpem, mas mesmo nas férias não consegui manter uma regularidade para escrever no blog. Essa professora que vos fala não consegue viver sem acumular projetos e nas férias resolveu dar início à operação "Saiam das ruas" e entrar na Autoescola em busca de uma licença para dirigir automóveis. Estou amargando as horas a fio de aulas teóricas, mas prometo avisar assim que iniciar as aulas práticas, a fim de que os meus poucos leitores não saiam nas ruas (quem avisa, amigo é) nos horários marcados para as aulas.

Brincadeiras à parte, estou aqui hoje para contar para vocês que ano passado fiz uma atividade com uma turma de 6.º ano sobre Pré-História que deu muito certo. Semana passada, quando voltei à escola e resolvi esvaziar o meu armário, a fim de deixá-lo pronto para mais um ano letivo, me deparei com os trabalhos que tinha guardado para uma futura exposição. Embora a ideia da exposição não tenha vingado, resolvi expor a vocês os trabalhos dos meus pequenos homens e mulheres das cavernas.

O trabalho foi realizado no 6.º ano. Me incomodava sobremaneira abordar Pré-História com crianças de 11, 12 anos falando os dificílimos termos Paleolítico, Neolítico, Idade dos Metais. Qualquer crianças nessa idade- pudera - têm uma compreensão muito limitada desse passado tão longínquo.

A princípio, pensei até em usar o desenho "Os Flintstones" ou as historinhas do Piteco, mas me dei conta de que não ajudariam porque  mostran uma Pré-História com todas as comodidades do mundo moderno (inclusive misturando dinossauros no bolo, o que torna mais difícil ainda para os alunos situarem as coisas no tempo). Se a ideia era situá-los, ao mesmo tempo dando dimensão da precariedade com a qual conviveu a espécie humana nesses primeiros tempos, teria que bolar outra coisa. A chave, para mim, seria trabalhar nomadismo e sedentarismo, ir aos poucos desvendando elementos do cotidiano, o que esses homens e mulheres pré-históricos faziam para se alimentar, como se vestiam, como se abrigavam do frio.

Tenho um joguinho de tabuleiro que faz parte do livro "Pedagogia da Alegria", que me foi sugerido  pela professora Andrea Gugelmin (grata!) há algum tempo atrás. O livro é da autoria da professora Tânia Dias Queiroz e possui diversas outras atividades lúdicas para se trabalhar com conteúdos relacionados ao ensino de História.



 Apesar de servir para introduzir, a atividade de trilha não dava conta de explicar tudo o que eu gostaria. Assim, desenvolvi um trabalho em cima dos conceitos de agricultura e pecuária, buscando sempre enfatizar porque essas duas atividades foram importantes para o desenvolvimento da humanidade, para sua sedentarização (palavra difícil, mas eu acho que eles entenderam) e para o surgimento das primeiras aldeias.

Paralelamente a isso, expliquei o que eram as pinturas rupestres, as marcas deixadas pelos homens das cavernas na época em que eles viveram. Como apoio, usei o vídeo do Discovery Channel "Homem Pré-Histórico: vivendo entre as feras".



Outra opção seria usar um desenho recentemente me mandado pela colega Fátima Veiga, sobre as Aventuras de Uhug na Serra da Capivara. É interessante para mostrar para os alunos que no Brasil também tivemos pré-história e a dificuldade de sobrevivência nesse período.  A dublagem é a voz do Tadeu Melo, ator que emprestou a voz ao personagem Syd na animação "A Era do Gelo", conhecida da marioria dos alunos.


Uma outra opção, ainda, é o filme "A Guerra do Fogo", tomando o cuidado de adaptá-lo porque possui cenas inadequadas para a faixa etária.
 
Buscamos juntos levantar hipóteses para o fato daqueles homens deixarem suas marcas nas cavernas. Por que? Qual a finalidade? O que eles retratavam? Os alunos fizeram uma pesquisa buscando responder a essas questões. 

Por fim, devo agradecer à diretora da minha escola Denise Castanheira pela ideia de os alunos desenharem em lixas imitando a parede de uma caverna. Nesse desenho, os alunos deveriam fazer uma pintura rupestre como se fossem homens das cavernas. Por fim, faríamos uma exposição e enfeitaríamos a nossa caverna, o mural das salas 1601 e 1602 com as pinturas deles e os resultados de suas pesquisas. Nesse desenho, eles deveriam respeitar as atividades econômicas que tínhamos visto antes para os períodos Paleolítico (caça/coleta/pesca) e Neolítico (agricultura e pecuária).


A atividade, na minha opinião, foi um sucesso. Eis o resultado:




terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Operação "cavalo de Troia"

Boas férias a todos.

Mais uma vez me afastei por um longo tempo do blog. Hoje volto para contar para vocês como foram os últimos dias na escola, antes das férias. Tivemos uma festa com apresentações dos projetos desenvolvidos pelos professores com suas respectivas turmas. Os nossos pequenos bárbaros da turma 1601 estavam ensaiando com a prof.ª Rosa, de Teatro uma peça sobre a "Guerra de Troia". Na verdade, a peça foi fruto de um trabalho conjunto entre essa professora que vos fala, da disciplina História e os professores de Teatro, Música e Português.
Umas duas semanas antes estive assistindo os ensaios e como vocês podem imaginar, era o caos. Achei que daquele mato não ia sair nem coelho, quanto mais cavalo. No dia, entretanto, saiu tudo perfeito e nós, professores e direção ficamos mais que surpreendidos com a capacidade dos nossos pequenos gregos e troianos.

O sucesso do projeto dependeu da obstinação da professora Rosa, uma das mais comprometidas e conscientes e que eu já encontrei nesses poucos anos de trabalho na Rede Municipal.
O projeto se iniciou, alguns meses antes, com a leitura do livro "Presente de Grego" de Elenice Machado de Almeida (ideia minha!).


O livro é uma adaptação das histórias da Ilíada e da Odisseia para crianças. Outra opção, se a ideia for fazer um teatro é a adaptação da Ruth Rocha, da Odisseia, que costuma existir nas bibliotecas da Rede Municipal.

Nós recomendamos aos alunos que lessem também a "versão"  da Ruth Rocha disponível na nossa sala de leitura.



Em um segundo momento, os alunos assistiram a uma versão editada do filme Troia, aquele com o Brad Pitt mesmo.


 Também assistiram ao vídeo sobre a Grécia Antiga da série "Grandes Civilizações", que conta de maneira didática um pouco da história de Homero.


Por fim, restava a elaboração do roteiro da peça. Em um primeiro momento, o próprio Homero se apresentava dizendo a que veio (contar a história da Guerra de Troia)


(W. nosso Homero)

Aqui, as deusas do Olimpo entram em uma disputa para saber qual delas era a mais bela e coube a Páris, princípe de Troia, decidir essa disputa.


(Nossas deusas, da esqueda para a direita, Hera, Atena e Afrodite, que ganhou a disputa prometendo a Páris a mulher mais bela do mundo, Helena)


(O rapto de B. nossa Helena de Troia)


(Os generais se reunem sob o comando dos reis Menelau e Agamenon e resolvem atacar Troia)


(Surge a ideia do cavalo e olha ele aí)



(Os gregos adentram as muralhas de Troia e derrotam os troianos)



(O canto das mulheres troianas, poema feito pela professora Roberta de Português, contra a guerra)


(Todos juntos agradecem ao som de "O que é o que é, música do Gonzaguinha escolhida pelos alunos junto com o Prof. Marcelo, de Música para representar a paz e a vontade de viver)

Só posso agradecer aos alunos e a Prof.ª Rosa porque a peça foi um sucesso. Aguardem ano que vem novas montagens da nossa companhia.