quarta-feira, 8 de junho de 2011

Oito anos

Ensinar História (ou seriam histórias?) para os alunos do 6.º ano não é tarefa das mais fáceis. Eu mesma não me lembro de ter gostado de História antes do Ensino Médio. História é uma das matérias que mais exige leitura, escrita e reflexão.Difícil, né?
Na minha época, a boa e velha decoreba era mais do que suficiente. O meu professor de História no ensino fundamental era um senhor de idade muito gente boa, vascaíno, que lutava judô e chamava as alunas de Francisquinha, Felisberta ou Julieta e os meninos de "mancebos" ou "monstrinhos". Impressionante como eu me lembro dele e de seus trejeitos, mas as aulas, dessas eu não gostava muito. Ele ensinava da seguinte maneira: colocava toda a matéria no quadro, até a mão doer de tanto copiar e explicava tudo. Depois dava um questionário com umas dez ou quinze questões, algumas das quais eram cobradas nos testes e provas. As respostas das questões eram sempre as mesmas, decoradas, nunca diferentes do que estava no texto escrito por ele no quadro.
Lembro de uma amiga muito inteligente que respondeu na prova que em Roma se construíam aquedutos porque não existia encanamento e ficou revoltada porque o professor não considerou nem como meio certo. Foi a forma que uma aluna da sexta série, com 11 anos encontrou para compreender que um aqueduto na Roma Antiga era necessário, uma vez que ele não explicara de que forma o aqueduto conduzia a água de um lugar ao outro para abastecer toda a cidade.
Bem, coincidência, ou não, essa amiga também cursou História, embora hoje não seja professora (hoje ela trabalha no TJ e faz Direito).
Mas o que eu queria dizer, é que eu tento (nem sempre consigo, é claro) mostrar uma outra face da História para os meus alunos. Mostrar que a história é feita de perguntas, mais do que de respostas. Eu fico muito feliz quando um aluno pergunta algo além do óbvio, como foi o caso da menina que me perguntou sobre África.
Entretanto, o que eu percebo é que os alunos querem mais é pura e simplesmente copiar as perguntas e as respostas. Muitos deles querem que eu seja o meu professor lá dos tempos passados.
 Quando dou uma questão, qualquer que seja, eles querem saber em qual parte do texto, livro, apostila, caderno, ou algo que o valha está a resposta prontinha, esperando para ser copiada. Eu respiro, sorrio e digo: "na sua cabeça, pense com carinho que ela sai". Pena que eles não acreditam.
Não os culpo. Se eles chegaram ao 6.º e 7.º ano sem saber pensar algo nas suas formações falhou. A escola não cumpriu o seu papel, que não é o de produzir reprodutores de conteúdos. Mais grave que isso, alguns chegam ao 6.º ano (antiga 5.ª série), sem saber ler. Dessa forma, não entendem nem o que estou perguntando.

Pensando nessa postura que eu espero dos alunos nas aulas de História, eu criei uma atividade que pode ser feita em uma aula inicial, no primeiro dia de aula, para deixar claro o que vai ser valorizado na disciplina. Acho que pode funcionar bem com o sexto ano.

Em um primeiro momento, deve-se perguntar se eles sabem o que vão estudar em História apresentar a disciplina, dizer o que se vai estudar. Pode-se até escrever no quadro.
Em seguida, deve-se dizer que para estudar História devemos lembrar um pouco de como era ser criança (eles a meu ver são crianças, mas odeiam ser tratados como tal). Uma das características da criança é que ela pergunta tudo, quer saber como as coisas acontecem. No nosso caso, vamos querer saber como as coisas aconteceram e que relação têm com o que vemos nos dias de hoje. Você pode dizer que trouxe uma música para ajudar no processo de lembrar como era ser criança. A ideia é apresentar aos alunos a música "Oito Anos", da Adriana Partimpim (os dois CDs são uma delícia, recomendo). Distribua a letra e peça para eles cantarem junto.
Abaixo, o link de uma montagem do vídeo.


Em seguida, você pode conversar com os alunos para saber, diante do que você falou, quais são as expectativas deles em relação ao ensino de História, como eles acham que será o novo ano, com tantas disciplinas diferentes, etc.

Eu ainda não experimentei porque bolei essa aula depois do início do ano, mas estou pensando em colocar em prática quando voltarmos das férias de julho.

Se alguém quiser experimentar e postar aqui as suas impressões, fique à vontade.

2 comentários:

  1. Eu ainda não tive nenhuma razão concreta pra gostar da quinta série.
    Na semana passada eles bateram palma pra mim quando eu saí. Nao tenho paciência pra tanta criancice, sabe? E é sempre uma série cheia de repetentes então ficam as crianças bobinhas e os adolescentes espertalhões juntos. Muito duro!

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  2. Eu até gosto da quinta série, até porque boa parte da experiência que eu tive foi com esse ano. Quando chega um professor novo na rede municipal de ensino é logo jogado às feras, ou melhor, às ferinhas. Os professores antigos, geralmente mais velhos, odeiam pegar a quinta série porque tem que ter paciência e disposição. Eles realmente, falam o tempo todo, levantam o tempo todo, cutucam os outros, jogam bolinhas, essas coisas. Eu acho que quando a turma ajuda, dá para inventar mais, inovar mais porque eles topam muitas coisas que os maiores torcem o nariz. O problema é inventar com turmas de 40, 40 e poucos.

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