segunda-feira, 26 de novembro de 2012

As maquetes do 6.º ano

Todo professor que mereça tal título fica muito animado quando consegue mobilizar os seus alunos em prol de um trabalho. Desde que entrei para dar aulas na Rede Municipal de Ensino que uma das minhas vontades era fazer um trabalho bem prático com os meus alunos, um trabalho de maquete. Mas vá colocar isso em prática... Experiências anteriores e tentativas frustradas me mostraram que o momento ainda não chegara. Talvez não estava preparada para coordenar um trabalho desses ou as turmas que pegara até então não tinham o perfil desse tipo de trabalho. Sim, a turma tem que ter motivação também, senão o trabalho acaba inviabilizado por falta de material, ou mesmo por falta de vontade de fazer um trabalho bem feito.
Esse ano peguei uma turma de 6.º ano e senti que daria para fazer o trabalho com eles. Eles são bem pequenos e por isso, ainda se motivam com trabalhos práticos.
A primeira etapa do trabalho foi a escolha pelos grupos de um assunto que trabalhamos ao longo do ano letivo. A ideia é que as maquetes fossem o fechamento e a avaliação do que os alunos aprenderam ao longo do ano. Assim, poderia perceber o que eles entenderam sobre a importância dos rios, as atividades econômicas, a construção de cada espaço, em cada tempo que estudamos e sua capacidade de se organizar para dar conta de um trabalho que demandava planejamento e esforço. Assim, propus cinco assuntos estudados ao longo do ano: Pré-História, Mesopotâmia, Egito Antigo, Grécia Antiga e Roma Antiga.
A primeira etapa do trabalho consistiu na pesquisa. Nessa etapa, tive ajuda da professora Lúcia da sala-de-leitura, que emprestou os livros paradidáticos e didáticos que os alunos usaram como base para entender melhor as representações geográficas de cada sociedade estudada. Em sala, também tive a ajuda da internet para mostrar aos alunos como poderiam construir suas maquetes e o que era isso, já que muitos nunca tinham feito esse tipo de trabalho.

Os livros abaixo foram usados como material de apoio. Eles já são um pouco antigos, mas contêm imagens muito boas sobre as sociedades em questão. Eles são facilmente encontráveis em sebos e livrarias.






A segunda etapa foi o planejamento do material a ser utilizado e a organização propriamente dita do trabalho. Cada membro do grupo ficou responsável por providenciar esse material e confeccionar as maquetes.
A terceira etapa foi a apresentação para a turma do trabalho realizado.
Eis aí, o resultado:


A pré-história das meninas, com o surgimento do fogo. 


A Mesopotâmia. Vejam se não é o Michael Jackson dentro do Zigurate. 

O Egito com as pirâmides e o Rio Nilo. 


Mais uma do Egito com as múmias e o Rio Nilo feito de gel para cabelo. O tamanho do boneco que representa o faraó se explica pelo fato dele ser o mais importante na sociedade. 

Outra do Egito feito com areia de verdade. 

Mais uma do Egito. Quando eu perguntei se no Egito existia coqueiros, o aluno prontamente me respondeu: É uma miragem, professora! (rsrsrsr)

Roma Antiga com as lutas de gladiadores e corridas de bigas. 

Bem, as maquetes ficaram bem legais e a experiência valeu muito. Pelas caras dos alunos, parece que eles gostaram bastante e ficaram bem satisfeitos com os seus trabalhos. A auto-estima deles melhora muito quando são capazes de perceber o seu potencial e estimulados a dar o melhor de si. 

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Fragmentos de Roma Antiga

Tenho uma turma terça-feira à tarde que é terrível. Quer dizer, a pauta tem 52 alunos, porque o tempo todo entram e saem alunos da turma. Os que estão comigo desde o início do ano contam-se nos dedos. É uma turma de 6.º  ano (1606) de alunos defasados em idade e aprendizagem e muito indisciplinados. Poucos se interessam por qualquer coisa que eu leve e como fico com eles três tempos de cinquenta minutos na terça-feira, as aulas costumam ser bastante cansativas.
Percebi, entretanto, que eles gostam de trabalhos diversificados e essas aulas rendem mais. O problema é como fazer um trabalho com uma turma que não têm nenhum tipo de material? Comprar tudo? Pegar na escola? Às vezes dá certo, às vezes não.

Como estávamos trabalhando com Roma Antiga pensei em propor um trabalho com mosaico. Dividi a turma em pequenos grupos, consegui emprestado umas tesouras e colas na escola e comprei papel colorido, uma cartolina de cada cor. Dividi o papel dando um pedaço de cada cor para cada grupo.

Expliquei que o mosaico é uma técnica muito antiga produzida com pequenas pastilhas de cerâmica ou pedrinhas que são dispostas para formar uma imagem maior. Disse que os romanos antigos, que estamos estudando, gostavam muito da técnica e a usavam para decorar ambientes. Mostrei alguns mosaicos romanos, como os que estão abaixo:

Mosaico do Império Romano em Vichten, em Luxemburgo, representando Tália, a musa da comédia

O poeta romano Virgílio (Século III)
Entreguei alguns desenhos para os grupos retirados desses sites: 




Expliquei que eles deveriam a partir daqueles desenhos produzirem mosaicos. 

O resultado foram esses  mosaicos produzidos pelos meus romanos: 
A lenda da fundação de Roma ganhou novos contornos, pois mesmo que Rômulo e Remo fossem gêmeos, um era branco (ou rosa) e o outro negro (rsrsrs)


 As classes sociais. Repare no chapéu do plebeu!

Um autêntico capacete de soldado romano todo em ouro e prata. 



O Coliseu. 

O gladiador pronto para combater dentro dele. 


Dois modelitos usados pelos soldados romanos. 
 As residências romanas. 

Acho que os trabalhos ficaram muito bons. Acho que eles aprenderam muito com os mosaicos e gostaram de fazer. Pelo menos, achei que se envolveram com o trabalho. 







A África de Kiriku

Bem, o fim do ano chegou. Novembro veio e o blog anda meio abandonado. Muito a fazer e pouco tempo. Aulas para dar, provas para corrigir, cursos para montar, estágios para organizar, uma bolsa de pesquisa a se conseguir, apartamento para reformar, prova da autoescola para passar... Enfim... Estou aqui aproveitando o feriado para tentar colocar em dia as postagens, pois não escrevia desde setembro. Sempre é tempo para se corrigir.
Hoje vou falar para vocês de um achado sensacional, capaz de prender a atenção até mesmo das turmas mais terríveis (como mostra a experiência da professora Ana Lúcia, da sala de leitura da escola). Estou falando do desenho "Kiriku e a feiticeira".
Em maio/junho tive que dar aula de África negra antes da chegada dos europeus para os alunos de 7.º ano. Não sabia muito bem o que fazer para aproximar os alunos dos conteúdos. Já mostrei aqui como fiz no ano passado para familiarizar os alunos com a ideia de África, mas sentia que necessitava fazer algo diferente com essas turmas de alunos mais novos e mais imaturos.
Me incomoda um pouco a forma com que os livros didáticos abordam a África antes da chegada dos europeus, mostrando o Império do Mali e o Reino do Congo. Acho que a ideia é a seguinte: se estudamos a história política europeia, os seus reinos e impérios,  por que não fazer o mesmo com a África?
Acho importante mostrarmos que na África existiam reinos, impérios, mas acho que isso fica muito distante do cotidiano dos nossos alunos. Me sinto mal quando falo da formação dos reinos ibéricos porque acho que não faz o mínimo sentido para eles. Por que com o Reino de Mali e do Congo seria diferente? Precisava de um plano B se quisesse mostrar para eles a importância das histórias na África, o valor que eles dão aos idosos, o modo de vida em aldeias, as vestimentas, enfim, se quisesse aproximar os alunos de pelo menos parte da cultura das Áfricas.
Já conhecia "Kiriku e a feiticeira" e resolvi passar o filme inteiro para eles antes de qualquer discussão. E foi muito produtivo. Todos prestaram a maior atenção. Eles A-D-O-R-A-R-A-M! Não imaginei que um filme com uma história assim, tão diferente dos clássicos da Disney ao qual eles estão acostumados, pudesse fazer tanto sucesso.

Discutimos pontos fantasiosos da história, como o fato do menino nascer falando ou crescer tão rapidamente. Mostrei a eles que o filme foi inspirado em uma lenda africana e que as lendas podem trazer elementos fanstásticos ou mágicos. Achei que o filme também seria importante por mostrar um heroi que foge dos padrões tradicionais, pois é um menino pequeno e negro e uma feiticeira má por conta das circunstâncias às quais foi submetida e não por essência.

Em seguida pedi para eles observarem a aldeia de Kiriku, as vestimentas, a importância da água para as pessoas que viviam nela. Pedi também que escrevessem qual a lição que eles achavam que era principal no filme. Reproduzo abaixo alguns trechos do que eles escreveram (CUIDADO, SPOILERS!):

"A lição que o filme traz é que grandes ou pequenos, nós podemos ajudar."
M. (turma 1702)

"Uma mulher da tribo tem um bebê muito pequeno que ajuda as pessoas para elas não serem pegas pela feiticeira. Todos têm medo da feiticeira, até que Kiriku quis descobrir porque ela era má. Ele descobriu que ela era assim, pois tinham fincado uma estaca nas costas dela. Ele foi até lá e conseguiu arrancar a estaca e ela ficou boa. A feiticeira beijou Kiriku e ele cresceu. Eles viveram felizes para sempre."
 G.L. e M. R. (turma 1702)

"Para eles a água eram importante para fazer suas tarefas e suas necessidades. Exemplo: tomar banho e fazer comida."
R. e S. (turma 1702)

"As casas são de palha e parecidas com as dos índios, só que mais finas"
R. e J. (turma 1702)

Esse blog traz cenas do filme para colorir.

http://solangepedag.blogspot.com.br/2009/09/cenas-do-filme-kiriku-e-feiticeira-para.html

O filme Kiriku foi interessante para introduzir o conteúdo de África de uma forma lúdica e mais próxima dos alunos. Deixei uma cópia do filme na sala de leitura e a professora usou com uma turma de 7.º ano  muito agitada da tarde. Ela disse que os alunos ficaram hipnotizados. O filme é bom, a diversão é garantida e com um trabalho bem feito pode servir como uma ponte entre os alunos e aspectos da cultura africana.

Não custa tentar, pois como diz um ditado africano: "É tentando muitas vezes que o macaco aprende a pular da árvore". (LOPES, Nei. Kitábu: o livro do saber e do espírito negro-africanos. Rio de Janeiro: Senac Rio, 2005, p. 67 Apud BOULOS, Afredo. História, Sociedade e Cidadania. 7.º ano. São Paulo FTD, 2009. p. 72)